Compagas adia aumento do gás natural

A Companhia Paranaense de Gás (Compagas) anunciou ontem que não vai repassar para os consumidores de gás natural do Paraná o repasse de cerca de 12% no preço do produto que receberá da Petrobras já a partir do dia 1.º de janeiro. A distribuidora decidiu aguardar até o dia 16 de janeiro para definir o percentual que terá que repassar aos clientes em função do aumento determinado pela Petrobras. Este será o quarto reajuste feito pela Petrobras desde janeiro deste ano.

?Mesmo recebendo diversos reajustes, procuramos conceder aos nossos consumidores o aumento mínimo necessário para conseguirmos manter os investimentos e, ao mesmo tempo, o crescimento do mercado?, disse o presidente da distribuidora paranaense, Luiz Carlos Meinert.

Com o reajuste, a Petrobras encerra um acordo que existia desde 2002 e volta a aplicar as cláusulas previstas no contrato de fornecimento de gás natural boliviano, que tem como referência a variação do barril do petróleo e a inflação americana, com revisão a cada três meses. Nos últimos meses, a Compagas e as demais distribuidoras da região Sul (Sulgás e SCGás) realizaram várias reuniões com a Petrobras para construir em conjunto uma fórmula de amortecimento do impacto deste aumento, o que não foi possível. A Compagas criticou a atitude da Petrobras, que aprovou uma proposta que embute um alto custo financeiro de variação cambial mais juros de 12% ao ano, o que anula qualquer benefício de amortecimento que pudesse ser obtido.

Com isso, a estatal pode acabar reduzindo o crescimento do mercado brasileiro de gás natural. A Petrobras vende o gás importado da Bolívia aos três estados do sul e também a São Paulo e Mato Grosso do Sul. ?Não concordamos com essa atitude e por isso decidimos que, mantida a atual situação macroeconômica, após a definição sobre um realinhamento de preços no dia 16 de janeiro, não vamos aplicar outro reajuste a nossos clientes durante todo o ano que vem, como forma de garantir o crescimento do gás natural no Paraná?, afirmou Meinert.

Histórico

A Compagas e as demais distribuidoras do sul estão desde julho deste ano tentando reverter a intenção da Petrobras de reajustar o preço do combustível. Naquele mês, a Petrobras comunicou às distribuidoras que são supridas pelo gás boliviano (PR, SC, RS, SP, MS) que aumentaria em cerca de 27% o valor final de venda do combustível para as distribuidoras brasileiras. A estatal utilizava a então recém promulgada Lei de Hidrocarbonetos da Bolívia, o aumento do preço do gás no seu contrato de compra e venda com a boliviana YPFB e ?a manutenção da sustentabilidade dos investimentos no setor de gás natural? para explicar a medida. Essas justificativas foram contestadas pela Compagas, porque não há previsão de investimentos relevantes da Petrobras na região Sul do Brasil, que será a mais atingida com a medida.

Com a ação da Compagas e das demais distribuidoras, a Petrobras adiou o reajuste, que começou a valer em 1.º de setembro, da seguinte forma: 13% nessa data, 10% em 1.º de dezembro e o restante agora em janeiro. Esses três aumentos foram somados a um de 10% que já tinha sido aplicado pela Petrobras em janeiro de 2005. Mesmo com todos esses reajustes, a Compagas só realinhou suas tarifas no Paraná no dia 15 de setembro, com índices de 2,8% a 9,2%, dependendo do segmento. E agora conseguiu adiar para 16 janeiro de 2006 o repasse de parte do reajuste de cerca de 12% que já receberá no dia 1.º. ?Conseguimos assumir ao máximo esses reajustes. Em um ano, a Petrobras aumentou em mais de 40% (sendo mais de 70% apenas no preço da commodity e cerca de 3% no transporte) seu preço de venda para as distribuidoras e aqui no Paraná, o reajuste não chegou a 10% no mesmo período para os clientes?, lembrou o presidente da Compagas.

Mercado

O gás natural está disponível hoje em sete municípios do Paraná (Curitiba, São José dos Pinhais, Campo Largo, Balsa Nova, Araucária, Palmeira e Ponta Grossa). São cerca de 1500 consumidores dos mercados comercial, industrial, veicular, residencial e de cogeração, responsáveis por um consumo médio de 714 mil m3/dia do combustível, com picos de 925 mil m3/dia.

Mesmo com os aumentos de preços enfrentados pela Compagas, o mercado do gás natural no Paraná apresentou um crescimento expressivo em relação a janeiro deste ano, tanto em número de clientes (de 749 para 1349) quanto em volume de vendas (de 610 mil m3/dia para 714 mil m3/dia). 

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