Comer fora de casa vira necessidade

Fazer as refeições fora de casa representa, em média, 25% do valor gasto em alimentação. Este índice vem aumentando nos últimos anos e tende a crescer ainda mais, em função da correria do dia-a-dia; dos deslocamentos entre casa e trabalho, que às vezes são muito longos; e dos custos com transporte e combustível.

O economista Sandro Silva, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socieconômicos (Dieese) do Paraná, explica que a pesquisa do Orçamento Familiar, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre os anos de 2002 e 2003, mostra a representatividade dos gastos com alimentação fora de casa. Vinte e quatro porcento do valor gasto em comida é referente às refeições em restaurantes e lanchonetes; 76% representa o custo com a compra de alimentos que são preparados em domicílio.

O índice varia conforme a renda familiar. Por exemplo, em uma família que possui um orçamento de até R$ 400, os gastos com comida fora de casa é de 12%; enquanto a proporção é de 27% em uma família com renda maior do que R$ 2 mil. ?Quanto maior a renda, menor o gasto com comida feita dentro do domicílio?, constata Silva. O economista revela que a pesquisa de Orçamento familiar feita pelo IBGE entre 1995 e 1996 já apontava esta tendência.

O custo da alimentação feita fora de casa também vem aumentando, segundo Silva. Ele explica que o grupo alimentos e bebidas subiu muito pouco nos últimos anos. Em compensação, as refeições fora de casa aumentaram acima da inflação, o que causa uma maior pressão no orçamento, principalmente nas rendas menores.

No ano passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), medido pelo IBGE, foi de 5,05%. O grupo de alimentos e bebidas teve uma variação de 1,43%. Dentro desta porcentagem, as refeições dentro do domicílio tiveram aumento de 0,5%, enquanto comer fora ficou 6,36% mais caro. No primeiro semestre deste ano, a situação se repete. A inflação acumulada em seis meses, calculada pelo INPC, chega a 1,06%. O grupo alimentos e bebidas registrou deflação de 1,28% no período. As refeições domiciliares tiveram uma variação negativa de 2,33% e as fora de casa subiram 4%. ?Uma das justificativas para isto é o custo de manutenção de restaurantes e lanchonetes, que possuem despesas com pessoal, luz e água, por exemplo. Mas o aumento está muito acima da inflação?, analisa Silva.

Facilidade e comodidade

O fenômeno de comer fora de casa pode ser explicado pelo crescimento das áreas urbanas e a proliferação de opções, segundo Ronald Ravedutti, conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon). ?As refeições em restaurantes e lanchonetes facilitam muito o dia-a-dia. É preciso fazer as contas para saber se realmente vale a pena. Algumas pessoas preferem comer fora e não gastar tanto com compras no supermercado ou contratar uma pessoa para fazer as refeições. Outro fator que pesa é o transporte ou combustível que se gasta no deslocamento entre a casa e o trabalho?, comenta. Ravedutti acredita que a representatividade dos gastos com comida fora de casa também está relacionada com o lazer. ?Qualquer saída hoje envolve comida?, lembra.

Para Marcelo Vital Brazil, diretor comercial da Equipotel -empresa responsável pela maior feira de gastronomia da América Latina, que acontece em agosto, em São Paulo – o gasto com comida fora de casa deve aumentar de 2 a 3% a cada ano. ?Este aumento é natural, pois está se perdendo a tradição de reunir todos os membros da família para almoçarem juntos em casa. Além disso, existe uma enorme oferta de opções. A tendência é crescer cada vez mais?, opina. De acordo com ele, restaurantes se preocupam em melhorar ainda mais a qualidade da comida e do atendimento para se tornarem diferenciais em um mercado concorrido.

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