Com alta da Selic, juros voltam a 2 dígitos após um ano

De olho no forte ritmo de crescimento da economia e na chance de a inflação sair do controle nos próximos meses, o Banco Central deu continuidade ao processo de aumento do juro básico da economia, a taxa Selic. Exatamente como esperado, a taxa foi elevada em 0,75 ponto porcentual, para 10,25% ao ano. Com o aumento, o País volta a conviver com juros de dois dígitos um ano após a Selic cair, pela primeira vez na história, para um dígito. A alta do juro tem como objetivo tornar o crédito mais caro e, assim, reduzir a velocidade da atividade econômica.

Feito histórico comemorado pela equipe econômica, por horas a Selic não chegou a completar seu primeiro aniversário. Em 10 de junho de 2009, o Copom anunciou a queda da taxa em 1 ponto, para o patamar inédito de 9,25% ao ano. Na época, o Brasil ainda reagia contra os efeitos da crise e o governo tentava amenizar o impacto da depressão que atingiu praticamente todos os países, especialmente os mais ricos. Para isso, reduzia o juro para incentivar o consumo.

No início do atual governo – em 2003, quando a Selic era de 26% – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer que a taxa de um dígito era um “sonho da equipe econômica”. O patamar histórico, porém, ficou para trás. Exatamente um dia antes do primeiro aniversário da Selic de um dígito, a taxa subiu e retornou à casa dos 10%. Curiosamente, o juro sobe porque as ações de combate à crise foram bem sucedidas. Com a forte reação da economia, a demanda avançou em passos bem mais rápidos que a capacidade de aumento da produção. O descompasso começou a pressionar preços e a inflação – que ficou perto de 4,30% no ano passado – deve fechar 2010 próxima de 6%, perigosamente perto do teto da meta de inflação, que é de 6,50%.

“A economia continua crescendo e há uma parte relevante da inflação que é relacionada com a demanda aquecida, como o aumento do preço de serviços”, diz o professor de economia da USP Fabio Kanczuk. No início de maio, o BC já havia alertado que o Brasil estava diante de um “virtual esgotamento” da capacidade de aumento de produção das fábricas.

Hoje, um mês depois, indicadores mostram que o uso da capacidade da economia continua em trajetória crescente. Kanczuk argumenta que o BC, como guardião do poder de compra da moeda, precisa desacelerar a economia para evitar o aumento descontrolado dos preços. “Agora, é preciso reverter o quadro porque a economia reagiu rápido. Por isso, o juro continuará subindo até um patamar considerado neutro, que não influencia o ritmo da economia para melhor nem para pior”. Pelas contas do mercado, a taxa deve subir 0,75 ponto mais duas vezes: em julho e setembro.

Para o professor da USP, o juro de um dígito não deve voltar tão cedo. Para ele, é muito difícil que isso aconteça em 2011 devido ao risco de repique da inflação. “Mas o Brasil terá de ter Selic mais baixa no longo prazo porque o risco país é muito mais baixo que no passado. Hoje, a chance de o Brasil quebrar é muito menor e isso precisa se refletir nos juros”, diz.

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