Brasil não muda política para conter o câmbio

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse na sexta-feira à noite, em Washington, que o BC não vai mudar sua política cambial para conter a desvalorização recorde da moeda. A declaração de Fraga foi feita após a conferência “Financiamento para o crescimento: fazendo acontecer”, no Banco Mundial.

A trajetória de subida (do dólar) tem a ver com que estamos discutindo aqui, com incertezas num contexto mundial pouco favorável. A nossa experiência no Brasil mostra que a solução tem de vir de um compromisso permanente com políticas macroeconômicas e financeiras saudáveis.

Segundo Armínio, qualquer outra resposta mais exótica traria mais problemas:

– Temos feito intervenções regulares, estamos fornecendo linhas de comércio. O que não se deve esperar do Banco Central é uma solução instantânea para todos os problemas. Isto vai além do que o Banco Central pode fazer. Isto depende de confiança no futuro, e eu estou confiante. As ferramentas do Banco Central são conhecidas e são as que nós usamos todo dia e vamos continuar a fazê-lo.

Perguntado sobre a declaração do ministro Pedro Malan, dada anteontem num evento do Banco Mundial, de que conversas e interações que envolveriam Fraga e o PT ainda estavam em curso, o presidente do BC disse que preferia não fazer comentários.

? São decisões que cada candidato tem de tomar com sua equipe. Elas têm que ser respeitadas. Eu não tenho conversas regulares com nenhum candidato.

Armínio garantiu que o estudo do Banco Central sobre a dívida pública (que garante que o endividamento estaria sob controle se obtiver um superávit primário de 3,75% do PIB), ao contrário do que disse o ex vice-diretor-gerente do FMI Stanley Fischer, ainda é válido:

– O problema que nós temos hoje não é um problema de longo de prazo, é um problema de confiança que vai ser superado.

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse que não chamou quem quer que seja de ignorante. Ele pediu aos jornalistas, que o esperavam à saída de um evento promovido pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) em homenagem ao falecido professor Rudiger Dornbusch, para explicar o que quis dizer quando referiu-se, ontem, à ignorância dos mercados.

? Se vocês me permitem, eu posso explicar o que falei em tom de brincadeira ontem e aparentemente não foi entendido. A frase não é minha: é de vários participantes do mercado, que brincam sobre isso, que os mercados são movidos por uma combinação de ganância, medo e… eu devia ter usado a palavra… se eu tivesse falando em português, eu teria dito desconhecimento, às vezes, da real situação de uma determinada região ou país. Eu não estava me referindo ao Brasil naquele momento.

O ministro garantiu que estava falando da economia mundial, e não se referindo ao Brasil. E utilizou uma expressão criada pelo presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, para dizer que algumas vezes os mercados vivem momentos de ganância infecciosa e outros de medo infeccioso, como a que está ocorrendo.

– Eu fiz questão de dizer que existem setores altamente sofisticados no mercado, que entendem as coisas que estão passando. Mas existem alguns, e não tem nenhuma razão de exigir que eles tenham conhecimento detalhado de qualquer país do mundo, de qualquer região, que se deixam levar por vezes pela psicologia do momento.

Para o ministro, algumas pessoas estão fazendo uma análise um pouco apressada sobre o câmbio, ao julgar que o real vai continuar depreciado.

? Não é essa a nossa a visão. Esse flagrante exagero no momento será corrigido.

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