Brasil ?blinda? aborto em visita do papa

Brasília – O aborto e o uso de preservativos ficaram de fora da pauta do encontro reservado entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o papa Bento XVI, amanhã cedo, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, anunciou ontem o porta-voz da presidência, Marcelo Baumbach. ?Isso vai depender da dinâmica da discussão?, disse. Segundo a Presidência da República, o presidente Lula tem ?especial interesse? em abordar dois temas durante o encontro: a desintegração da família e programas voltados para a juventude.

Depois do encontro reservado, que terá também a participação da primeira-dama Marisa Letícia, o papa receberá para cumprimentos parentes do presidente e o governador de São Paulo, José Serra. Segundo a presidência da República, a viagem do Papa ao Brasil, que começa hoje, às 16h30, quando ele desembarca na base aérea de São Paulo, e vai até domingo, é de natureza pastoral e não-oficial, portanto, nenhum documento oficial de Estado será assinado nesta visita.

No entanto, Vaticano e Brasil negociam uma série de acordos que serão firmados em um documento chamado ?concordata?. ?Há uma negociação bem encaminhada com o Vaticano na discussão do que chamamos um acordo-quadro. Mas não será desta vez que se assinará. Até porque o documento será assinado entre os ministros da Relações Exteriores e o ministro das Relações Exteriores do Vaticano não virá nesta viagem de Sua Santidade?, disse Baumbach.

Independentemente de o assunto não ser tratado na visita do papa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou ontem, em entrevista em São José (SC), que é contra o aborto, mas que como chefe de Estado tem que tratar o assunto como questão de saúde pública. Ao ser perguntado se a igreja não precisaria se modernizar, Lula disse que a igreja tem autonomia e idade para tomar as decisões que melhor lhe convém.

?Eu fiz questão de dizer ontem (segunda-feira, em entrevista a emissoras católicas), não apenas como presidente, mas como cidadão, que na minha história política sou contra o aborto. Mas enquanto chefe de Estado acho que o aborto tem de ser tratado como questão de saúde pública?, afirmou. ?Como é que nós vamos fazer se ele (aborto) existe e se nós sabemos que normalmente são pessoas que não têm nenhuma condição de assistência, que são vítimas do aborto?. É preciso que a gente cuide disso com a realidade que temos de tratar. Só isso?, afirmou. O tema é um dogma da Igreja Católica, que se opõe ao aborto radicalmente.

Bispos criticam ministro da Saúde

Indaiatuba, SP (AE) – Os bispos d.Orani Tempesta (arcebispo de Belém, PA), d.Itamar Vian (bispo de Feira de Santana, BA) e d. Angélico Bernardino (Blumenau, SC) criticaram ontem, em entrevista coletiva na 45.ª Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o posicionamento do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, a favor da legalização do aborto no Brasil. ?Gostaria que o ministro da Saúde estivesse a serviço da vida e não da morte. Que ele seja ministro da Saúde, e não da morte?, afirmou d. Angélico. ?A nossa preocupação e comprometimento é com a vida. Com a saúde da mulher e com a vida?.

Segundo informou d. Orani, o posicionamento dos bispos ainda não reflete a linha da CNBB, embora o posicionamento da Igreja Católica seja claramente contrário ao aborto. ?São declarações pontuais. Ainda não saiu um documento político sobre isso?, disse.

Caminhada repudia debate sobre legalização

Brasília (ABr) – Cerca de 5 mil pessoas participaram de uma caminhada contra a legalização do aborto na Esplanada dos Ministérios. Com o lema ?Vida sim, aborto não?, representantes das bancadas evangélica e católica no Congresso Nacional e de organizações da sociedade civil saíram da Catedral Metropolitana de Brasília e foram até a Praça dos Três Poderes com faixas contra o aborto e palavras de ordem contra o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.

Em seguida, ocorreu uma audiência com o vice-presidente da República, José Alencar. Na reunião, parlamentares que participaram da manifestação entregarm a Carta de Brasília contra a legalização do aborto no Brasil e o ?abaixo-assinado pela vida?. ?Essa carta é um ato de clamor à vida, um ato de sim à vida, mostrando que a sociedade brasileira é radicalmente contra o aborto?, afirma o presidente da Associação Nacional Pró-vida e Pró-família, Paulo Fernando Melo.

Ele é contrário à realização de um plebiscito sobre a legalização do aborto. ?A vida é um bem inalienável, intrínseco da pessoa, nó achamos desnecessária a realização do plebiscito, não se pode fazer um plebiscito para condenar um inocente à morte.?

A presidente da Associação Brasileira de Assistência às Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace), Rosângela Justino, diz que uma das preocupações do movimento é com a divulgação de conceitos que, segundo ela, desconstroem os valores da sociedade. Entre eles, possíveis benefícios trazidos pela legalização do aborto, como evitar mortes em decorrência de abortos clandestinos. ?Nunca foi dito por nenhum profissional, nenhum jurista, que o aborto é importante para a saúde da mulher, muito pelo contrário, o aborto sempre foi considerado um dano não só para a saúde física da mulher, mas também para a saúde psicológica também?, afirma a presidente da Abrace.

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