Amorim reclama à OMC de propostas “desequilibradas”

O chanceler Celso Amorim foi até Genebra nesta quinta-feira (19) dizer ao diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, que as propostas feitas pela entidade para a abertura dos mercados agrícolas e industriais, no âmbito da Rodada Doha, estão "desequilibradas".

Durante sua passagem pela cidade, Amorim ainda esteve com o G-20 grupo de países emergentes, garantiu que o bloco está unido e que apoiará as sugestões feitas pela OMC no setor agrícola. Cuba porém, foi a única que não endossou completamente a idéia de um apoio à proposta, por alegar que alguns interesses dos países em desenvolvimento no setor agrícola não estavam contemplados.

Os textos apresentados pela OMC sugerem que os países emergentes cortem em mais de 60% suas tarifas de importação de bens industriais. Já os americanos colocariam um teto de até US$ 16,4 bilhões em subsídios por ano. Aos europeus caberia um corte entre 66% e 73% em suas tarifas de bens industriais.

Diante dessa cartas que estão sobre a mesa, Amorim deu seu recado a Lamy. "Eu disse a ele que há um desequilíbrio inerente (nas propostas)", afirmou o chanceler. Para Amorim, o problema central é que a proposta agrícola, ainda que seja aceitável para o Brasil, permite certos confortos aos países ricos. Isso porque a Europa praticamente não teria de fazer grandes esforços para chegar ao que a proposta sugere.

"Já no setor industrial, a abertura sugerida aos países emergentes não dá qualquer margem de conforto e é ambiciosa demais", explicou Amorim. "Não é o que pedimos", disse, insinuando que irá tentar a partir de agora influenciar o processo para que mudanças sejam feitas nas propostas de liberalização do setor industrial.

Emergentes

Após seu encontro com o G-20, Amorim garantiu que o grupo está unido e que há uma percepção geral de que se poderá usar o texto agrícola como base para as negociações. "A unidade será importante nesse momento", disse. De fato, diplomatas da Venezuela, Uruguai e Argentina também apontaram para uma convergência nas opiniões do grupo. "A unidade do G-20 é essencial para uma conclusão da Rodada. Há um entendimento que, seja qual for o progresso, ele aconteceu por causa do G-20", disse o chanceler.

Mas os negociadores alertam que a união do G-20 é apenas "parte da história". Onde está cada vez mais claro que não há qualquer união é na questão dos produtos industrializados. Hoje, o grupo formado por Brasil, Argentina, África do Sul e outros emergentes se reúnem para definir como irão oficialmente reagir à proposta, que vai além do que estão dispostos a fazer como concessões. Já Chile, Cingapura, Peru, Colômbia, México e Costa Rica ganham adeptos a sua proposta de cortes acima de 60%, como também afirmam os documentos da OMC.

Na semana que vem, a entidade volta a se reunir pela primeira vez de forma oficial após a apresentação dos documentos. Cada grupo irá, até lá, estudar cuidadosamente o que será dito para que os encontros não signifiquem a morte da Rodada Doha. "Certamente ainda há um longo caminho a percorrer", concluiu o ministro.

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