Ajuste de preços faz com que inflação se eleve no curto prazo, diz Tombini

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse nesta terça-feira, 15, que a economia brasileira passa por intenso ajuste de alguns preços regulados em relação aos livres. Ele deu como exemplo os preços de energia, que subiram quase 50% em 2015, refletindo custos do setor. “A correção desses preços teve como efeito impacto na inflação do ano corrente. Isso (correção de preços), no entanto, reduziu incertezas que comprometiam horizontes de mais longo prazo”, disse o presidente durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.

Segundo Tombini, outro ajuste pelo qual o País passa é o processo de recomposição do “colchão fiscal”. Ele ponderou que o Brasil tem enfrentado esse “desafio” por meio de uma série de medidas que incluem, entre outras, cortes de gastos, redução de subsídios, aumento de tarifas públicas e recomposição de impostos regulatórios. “Tendo em conta que o processo de recuperação dos resultados fiscais tem ocorrido em velocidade inferior à inicialmente prevista, é fundamental que seja mantida determinação para a retomada de resultados primários positivos”, argumentou o presidente.

Ele ainda defendeu que o ajuste fiscal também possui suas próprias defasagens entre a discussão e a adoção das medidas e seus resultados. “Quanto mais tempestiva for a implementação do processo em curso, mais rápida será a retomada de uma trajetória favorável para a dívida pública e para a confiança de famílias e empresas”, disse.

Câmbio

Tombini também defendeu o lado positivo da alta do dólar frente o real. Durante a audiência, ele observou que, pela primeira vez desde 2005, o setor externo está contribuindo para o Produto Interno Bruto (PIB).

O presidente do BC ainda garantiu que a significativa depreciação do real não tem sido fator de desequilíbrio e instabilidade, como no passado. “A economia brasileira está menos exposta a riscos cambiais que no passado. Desde 2007 o setor público é credor em moeda estrangeira”, observou.

Para Tombini, a constituição das reservas internacionais brasileiras foi um pilar fundamental para o enfrentamento da crise global. Ele argumentou ainda que as reservas têm permitido mitigar o processo de normalização dos Estados Unidos e os efeitos iniciais da revisão da nota dos títulos soberanos brasileiros.

Segundo Tombini, elas representam um colchão importante, reconhecido pelas agências de classificação de risco, e que permitiram também implantar o programa de swap cambial, que tem sido importante para oferecer proteção contra a depreciação do real.

Ajustes

O presidente do Banco Central afirmou no Senado que, como o esperado em qualquer processo de ajuste macroeconômico, os custos se materializam de maneira descasada com os benefícios ao longo do tempo. “O ônus aparece mais rápido que os benefícios”, disse. Segundo ele, a percepção negativa no curto prazo distorce a visão de médio e longo prazo dos agentes, seja na retomada do crescimento, seja na convergência da inflação para a meta.

Tombini ainda ponderou que a queda do preço das commodities tem impactado o valor das exportações brasileiras. Entretanto, ele observou que a depreciação cambial o valor dos produtos em real tem aumentado. Na avaliação do presidente, o real mais fraco frente o dólar torna a economia doméstica mais competitiva e atrativa. “A depreciação cambial, ainda de forma defasada, deve impactar no setor manufatureiro. O custo das empresas, quando medida em dólar, apresentam trajetória excelente, e as exportações devem assumir papel crescente para a atividade econômica”, observou.

Ainda na avaliação de Tombini, o processo de substituição de produtos importados favorece tanto o saldo comercial quanto a atividade econômica. Ele explicou que as exportações líquidas têm melhorado apesar de depreciação dos termos de troca. “O saldo da balança tem sido positivo. Nossas projeções indicam que o déficit externo recuará mais de US$ 30 bilhões em 2015, quase um terço sobre 2014 e continuará sendo financiado por investimentos estrangeiros”, relatou.

Superávit primário

Alexandre Tombini saiu em defesa de um superávit primário mais robusto. Na avaliação dele, trajetórias fiscais que afetem de forma negativa as expectativas dos agentes contribuem para criar uma percepção menos positiva sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo.

“Uma trajetória de geração de superávit primários que fortaleça a percepção de maior sustentabilidade do balanço do setor público é fundamental para o ambiente macroeconômico e, portanto, para o crescimento sustentável à frente”, disse o presidente do BC, durante audiência na CAE do Senado.

Ele ponderou que, em contraponto, o momento deve ser aproveitado para repensar as estruturas de tributos e de gasto público, tanto numa perspectiva de melhora dos resultados fiscais no curto, médio e longo prazos, quanto de melhora na eficiência econômica e de impactos para o crescimento do PIB no longo prazo.

Para Tombini, o conjunto de medidas que têm sido tomadas para tirar o País da crise, são condições necessárias para fortalecer os fundamentos macroeconômicos. “A construção de um futuro mais próspero requer ações em outras frentes, de forma a superar gargalos estruturais à produção, acelerar a taxa de crescimento da produtividade e ampliar a oferta da economia”, disse.

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