Dossiê: família usada como ‘laranja’ está amedrontada

Sob a placa com o nome de sua pequena chácara, Sítio Rancho Alegre, Levy Luiz da Silva, de 72 anos, chorou ao falar com a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo anteontem sobre o fato de o seu nome e os de seu filho, Levy Luiz da Silva Filho, de sua mulher, Demilde Gomes da Silva, e de outros parentes aparecerem na lista de sacadores de dólares da Vicatur, em Nova Iguaçu. Aposentados, Levy e Demilde vivem na zona rural de Magé, numa casa simples

Ao saber do motivo da reportagem, a família ficou amedrontada. A filha deles, Denise, que não está na lista, contou que os pais são hipertensos e ficaram nervosos ao serem informados da possibilidade de terem tido o nome usado no caso. Depois de muita insistência, apenas o patriarca, Levy, aceitou conversar com o Estado, mas pediu que não fossem feitas fotos

Homem simples e franzino, disse que trabalhou 32 anos como agente de portaria do Ministério das Relações Exteriores no Rio de Janeiro. Com três anos de licença-prêmio, aposentou-se. Há dois anos, comprou o sítio e ainda trabalha como agricultor. Frisou que sempre teve muito cuidado para manter seu nome limpo e nunca viu uma nota de dólar. "Como posso ter sacado dólares? Há 12 anos não recebo aumento", afirmou. "Sempre tive muito capricho com meu nome. Sempre prezei minha honestidade", completou

Levy contou que tem acompanhado pela TV as notícias sobre a investigação da origem do dinheiro do dossiê Vedoin. Ouviu que uma família poderia ter sido usada como laranja, mas disse nunca ter imaginado que pudesse ser a sua. Sem conter as lágrimas, afirmou temer que seus parentes paguem por crimes de poderosos. "Vi na TV que estão procurando laranjas, mas não sou eu que estou por trás daquilo. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Eu sou o lado mais fraco. Não tenho nada com isso, mas estou preocupado. Neste País, sempre o pequeno paga tudo. E eu sou um pequeno.

Assim como o filho, Levy diz não ter idéia de como os dados dos documentos foram parar na Vicatur. "Não sei. Mesmo quando a gente vai numa loja comprar algo, pedem documentos", especulou. O aposentado também relatou não se lembrar de algum familiar que tenha perdido documentos e afirmou não possuir nenhuma relação com políticos. "Nem gosto de políticos. Voto porque é meu dever.

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