Doleiro diz que pagou R$ 300 mil a José Mentor para sair de relatório

Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, o doleiro Richard Andrew de Mol Van Otterloo afirmou ter pago R$ 300 mil de propina ao deputado José Mentor (PT-SP) para que o parlamentar não incluísse seu nome no texto final da CPI do Banestado, da qual o petista foi relator. O depoimento provocou uma representação da Promotoria de Justiça da Cidadania de São Paulo contra o deputado, por suposta participação em crime de extorsão ou corrupção ativa.

A representação – encaminhada pelo procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo César Rebello Pinho – foi protocolada na presidência da Câmara às 20 horas de quarta-feira passada. Justamente nesse horário os deputados estavam reunidos no plenário para julgar pedido de cassação de Mentor, que acabou absolvido da acusação de envolvimento no esquema do mensalão.

O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B -SP) deverá enviar hoje a representação para corregedor-geral da casa, deputado Ciro Nogueira (PP-PI). Mentor, por meio de sua assessoria, considerou "absurda" a acusação e disse desconhecer a representação dos promotores.

O deputado sustentou que nunca recebeu R$ 300 mil do doleiro nem de qualquer outra pessoa. Ele relacionou a acusação ao fato de ter, segundo sua versão, atuado de forma séria na CPI do Banestado e provocado a raiva de diversos doleiros que tiveram o sigilo bancário e fiscal quebrados durante a investigação.

O depoimento de Otterloo foi prestado no último dia 4 ao promotor de Justiça Sílvio Antonio Marques e ao procurador da República Rodrigo de Grandis. O doleiro contou ter chegado até um intermediário de Mentor por sugestão do filho do ex-prefeito Paulo Maluf, Flávio, que temia ver seu nome citado na CPI por causa de operações relacionadas com Otterloo.

O doleiro relatou que mantinha um acordo operacional com Vivaldo Alves, doleiro conhecido por Birigui, que, segundo Otterloo, operava contas dos Maluf. Otterloo operou a conta Jazz no MTB Bank de Nova York de 28 de março de 1997 até julho de 2002, quando ela foi fechada, e a conta Campari, aberta no mesmo banco

No termo de declaração encaminhado à Câmara há um item intitulado "Fatos relacionados ao deputado federal José Mentor e Flávio Maluf", no qual Otterloo conta como foi feito o pagamento da propina e como chegou ao intermediário de Mentor. "Na época da CPMI do Banestado (2003/2004) em razão da divulgação na imprensa de contas administradas pelo declarante (Otterloo), foi procurado por Flávio Maluf, o qual lhe disse que havia uma pessoa ligada ao deputado federal José Mentor, relator daquela CPMI, que poderia intervir junto ao parlamentar com o objetivo de excluir o declarante das investigações e do relatório final", diz o termo de declaração do doleiro.

Depois da sugestão, Otterloo conta que entrou em contato com a pessoa citada por Flávio Maluf, cujo nome e telefone, no entanto ele ficou de fornecer aos procuradores depois de consultar sua agenda. "Flávio Maluf queria evitar que aparecesse a conta Campari nas investigações, que poderia vinculá-lo a Simeão Damasceno de Oliveira", explicou o doleiro no depoimento. Oliveira é ex-diretor da empresa Mendes Júnior, investigada pelo Ministério Público por suposto pagamento de propina a Paulo Maluf durante a construção da Avenida Água Espraiada em São Paulo.

No depoimento, Oterloo conta que, na conversa com o intermediário de Mentor, lhe foi solicitado que pagasse ao deputado a quantia de R$ 300 mil. "Tal valor foi efetivamente pago em espécie (reais) em um flat localizado no bairro Itaim Bibi, nesta capital, ao intermediário indicado por José Mentor", afirma o termo de declaração.

O doleiro completa que "efetivamente recebeu o relatório final da CPMI, antecipadamente, em disquete, antes da data marcada para apresentação que seria feita pelo deputado José Mentor. Em tal relatório não constava o seu nome e, além disso, jamais foi intimado para depor perante o Congresso Nacional", diz o termo de declaração de Otterloo.

"Esclarece ainda, que teve notícia de que outros "doleiros" também foram procurados para pagar propina a José Mentor, não sabendo se houve efetivo pagamento", prossegue o documento. O doleiro contou ainda que foram feitas três reuniões até que fosse efetuado o pagamento dos R$ 300 mil e que o seu sócio Raul Srour, que também seria incluído no relatório da CPMI, conhece o episódio.

No termo de declaração consta que Otterloo prestou depoimento para "colaborar espontaneamente, para prestar esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria". Ele foi acompanhado dos advogados Gustavo Rodrigues Flores e Antonio Augusto Lopes Figueiredo Basto e se comprometeu, segundo termo que assinou, a colaborar "com outras investigações e, assim, obter os benefícios previstos em lei".

O doleiro também autorizou a quebra de seu sigilo bancário, fiscal e telefônico e das empresas Vitória Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda, Avenca Assessoria e Representações Ltda, Avenca Turismo e Câmbio Ltda, Sherbone AS e das contas Jazz, Campari, Chello, Deraboix e Europa.

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