Divergências nos depoimentos irão obrigar acareações, diz Amaral

Depois de mais um dia de depoimentos na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) que investiga denúncias de corrupção nos Correios, o presidente da
comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirmou que "as divergências nos
depoimentos estão ficando a cada dia mais comuns", o que obrigará a realização
de acareações. A senadora Ideli Salvati (PT-SC) já apresentou requerimento para
uma futura acareação entre Artur Washeck e Arlindo Molina. Ontem (28), os
deputados e senadores ouviram os depoimentos de Joel Santos Filho e Arlindo
Gerardo Molina Gonçalves. Para Delcídio, "está mais claro que existe uma ação
articulada com interesses específicos na estatal".

O primeiro confessou
ter sido um dos autores da gravação de vídeo que mostrou o ex-chefe de
departamento dos Correios, Maurício Marinho, revelando um suposto esquema de
corrupção na estatal para beneficiar o PTB. Já Molina, que se apresentou como
"consultor ad hoc" da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é apontado pelo deputado
Roberto Jefferson como a pessoa que tentou extorquí-lo para não revelar o
conteúdo da conversa de Marinho com Joel Santos Filho e outra pessoa.

No
depoimento à CPMI, Molina rebateu as declarações de Roberto Jefferson. Segundo
ele, a conversa que teve em 3 de maio com o parlamentar, mesmo dia em que
Marinho pediu afastamento dos Correios, teria sido apenas para comentar a
respeito do filho do parlamentar, Roberto Neto, que trabalha em Belém (PA) –
mesma cidade onde o consultor da FGV presta um serviço. Naquele dia, lembrou
Molina, ele viajaria para a capital paraense.

Pouco antes do dia 3,
Arlindo Molina disse ter conversado por telefone com o empresário Artur Washeck
Neto, de quem se diz amigo há anos. Nesta conversa, teria dito a Washeck que
confessou ter mandado gravar a conversa com Marinho, que viria no dia 3 de maio
à Brasília, para um encontro com o deputado Roberto Jefferson. Segundo a versão
do consultor, ao chegar em Brasília, Washeck conversou com ele, mostrou-lhe o
DVD com a conversa de Marinho e pediu que contasse ao deputado, então presidente
do PTB, o que se passava.

Arlindo Molina disse que só tocou no assunto
com Roberto Jefferson no final da conversa, quando este já o conduzia pelo braço
a porta do gabinete. Neste momento, passando pelos assessores do parlamentar, o
consultor teria revelado a existência da fita e de que Marinho fora flagrado
recebendo R$ 3 mil. Molina afirmou que a reação de Roberto Jefferson foi dizer
que não conhecia Maurício Marinho.

O consultor, ainda pela sua versão,
tentou mostrar ao parlamentar a gravidade da situação dizendo que o funcionário
dos Correios estaria utilizando o seu nome, quando Jefferson voltou a reafirmar
que não conhecia Marinho. Esta conversa, de acordo com Molina, não durou mais
que dois minutos.

Uma questão que intrigou os parlamentares da CPMI foi o
trabalho de consultoria desenvolvido por Molina para a Fundação Getúlio Vargas.
Todos os quatro trabalhos para a FGV nasceram, segundo o deputado José Eduardo
Cardozo (PT-SP), de propostas feitas pelo consultor e não por intermédio da
fundação. Ele revelou ao parlamentar ter recebido um adiantamento de R$ 150 mil
de Carlos Kerner, Coordenador de Projetos da FGV, com quem desenvolve um
trabalho gestão administrativa para a prefeitura de Belém. No entanto, confirmou
que a fundação ainda não pagou nada por este trabalho que ainda não foi
encerrado. Os R$ 150 mil, de acordo com Molina, saíram da empresa de Kerner,
chamada CK.

Ao final do depoimento, o deputado Eduardo Cardozo (PT-SP)
pediu ao presidente da CPMI que encaminhasse cópias do depoimento de Molina à
prefeitura de Belém, ao Tribunal de Contas do Estado do Pará e à presidência da
Fundação Getúlio Vargas.

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