Distribuidoras de gás preparam novo aumento

O gás de cozinha (GLP) ficará até 10% mais caro para os consumidores a partir da semana que vem, segundo apurou O Estado. Algumas companhias distribuidoras já estão comunicando suas redes de revenda que não poderão mais entregar o produto ao mesmo preço de outubro. No setor, o comentário é que o GLP subirá 30% até o final do ano. As distribuidoras alegam defasagem de 70% sobre o preço internacional do gás (U$ 1 o quilo, enquanto no Brasil está em U$ 0,40). Em Curitiba e região, o preço médio do botijão de 13 quilos deve passar de R$ 20,00 para R$ 22,00, voltando ao patamar de preço do final de dezembro de 2001 (R$ 21,80).

Neste ano, o botijão de 13 quilos chegou a custar R$ 28,00 em Curitiba, em julho, com alta de 28% sobre o valor do final do ano passado. Porém com a redução de 12,4% no preço do gás nas refinarias, por decisão do governo federal, o produto recuou 17,5%, custando em média R$ 23,00 na primeira semana de outubro. Mesmo assim, acumulava incremento de 5,87% no ano, segundo levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). O preço caiu mais um pouco em outubro em função de promoções nos pontos de venda, mas nas distribuidoras os valores continuaram os mesmos.

“O preço dos derivados de petróleo é regido por legislação internacional. Se o Brasil cobrar menos, os outros países vão acusar de dumping”, comenta Stelios Chomatas, presidente do Sinregas (Sindicato dos Revendedores de Gás do Paraná). “Ou o governo cria um novo subsídio ou cria preço, não tem como correr”, considera. Segundo Chomatas, a abertura das importações para as empresas distribuidoras pressionou os custos do gás.

Pressão cambial

O consumo de GLP no Brasil é de 7 milhões de toneladas/ano. A Petrobras produz 5 milhões de toneladas e 2 milhões de toneladas são importadas. Até agosto desse ano, a Petrobras importava sozinha esse volume. Mas a partir de setembro as distribuidoras começaram a comprar parte do gás estrangeiro. A intenção da Petrobras é reduzir gradativamente seu volume de importação, já que o mercado é livre.

Ou seja, as distribuidoras passaram a pagar U$ 315 (cerca de R$ 1,2 mil) por tonelada de gás importado, enquanto a tonelada de gás produzida pela Petrobras é vendida a R$ 700. Até pouco tempo tudo era pago em real. Agora, as empresas arcam também com custos em dólares. “Se 15% do gás entrando na Região Sul é importado, não dá para vender por menos do que o custo”, cita Chomatas.

“Com essa condição de preço artificial, toda a cadeia do gás definhou e as empresas estão refazendo suas planilhas porque estavam no prejuízo. Houve redução de fretes e frotas e demissão de funcionários. Muitos revendedores estão desistindo do negócio”, relata.

A assessoria de imprensa da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) da Petrobras, em Araucária, informou que as cotas para as sete distribuidoras do pool de Araucária e para os clientes de Santa Catarina estão normais. Em média, 40 mil a 45 mil toneladas de GLP são processadas e vendidas mensalmente pela Repar. Em outubro, mais 8 mil toneladas de gás de um navio com 40 mil toneladas foram desembarcadas no Porto de Paranaguá para atender a Região Sul.

A Petrobras informou, via assessoria de imprensa no Rio de Janeiro, que o volume importado em outubro não teve redução de 20 a 30% como chegou a ser cogitado. Para novembro, a divisão das importações dependerá de reunião entre a estatal, ANP (Agência Nacional de Petróleo) e distribuidoras privadas.

Abastecimento garantido

Olavo Pesch

Embora algumas empresas de distribuição de GLP anunciem que poderá faltar produto no mercado, a Petrobras e o Sinregas descartam a possibilidade. “Depois da importação ajustada, não há risco de faltar”, afirma Stelios Chomatas, presidente do Sinregas. O que acontece, explica, é que desde que outras companhias passaram a importar gás de cozinha, a Petrobras mudou a sistemática de cotas. “Antes a Petrobras entregava a quantidade pedida pela companhia na região que ela quisesse, transferindo produto para os locais onde faltava. Atualmente libera as cotas, mas cobra o frete primário”. Ou seja, quando não há o volume total solicitado numa refinaria, a distribuidora tem que pagar uma diferença para retirar o produto em outro local.

“Por isso, a empresa fica limitada a vender com rentabilidade o gás disponível perto da base. Para conseguir suprir o mercado, tem que trazer de longe. Como fica mais caro, não traz e prefere reduzir a operação no fim do estoque”, observa Chomatas. “Isso cria um problema de mercado, porque existe preferência de marca pelo consumidor, mas logo deve haver acordos operacionais entre as empresas para equilibrar demandas, já que algumas têm excesso de cotas em determinadas regiões”, aponta.

Gasolina e energia na lista

Brasília

(AG) – O Banco Central projeta um reajuste no preço da gasolina de cerca de 9% para o restante deste ano e, ainda, prevê outros 9% de aumento para o combustível em 2003. A previsão está na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros foi mantida em 21% ao ano.

A justificativa para o reajuste na gasolina é que “existe um grau elevado de incerteza quanto à trajetória dos preços os derivados de petróleo”. O BC trabalha com a hipótese de que haverá ainda este ano um repasse do aumento do preço internacional do petróleo, ocorrido nos últimos meses e, também, da variação cambial desde os últimos reajuste.

O Copom destaca que na medida em que houver mudanças nos parâmetros, essas projeções podem ser revistas.

Como justificativa para a manutenção da taxa Selic em 21% ao ano – a taxa tinha sido elevada na reunião extraordinária de 14 de outubro – BC relembra que as projeções de inflação para 2002 e 2003 subiram rapidamente por causa da forte desvalorização do real, registrada desde setembro.

Aumento da energia

A tarifa de energia elétrica deverá ter um aumento maior neste ano do que o previsto anteriormente pelo Banco Central. A previsão do BC subiu de 20,6% para 21,2%, estimativa da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada ontem. Dos 21,2%, 3,8% ainda devem ocorrer até dezembro.

Para 2003, a projeção de reajuste foi elevada de 20,7% para 25%. Os diretores do BC explicam, no texto da ata do Copom, que esses aumentos são conseqüência também da desvalorização cambial.

Para as tarifas públicas de forma geral, a estimativa de reajuste do Banco Central subiu de 9,3% para 11,6% em 2002. No ano que vem, a inflação prevista para esses preços administrados (combustível, energia, gás de cozinha, telefonia, transporte público) também subiu, passando de 7,9%, projetados em setembro, para 12,1%.

“A revisão da projeção para 2003 é resultado da depreciação cambial e do aumento da projeção referente a 2003 para o IGP-M (Índice Geral de Preço do Mercado), que embasa os reajustes de parte significativa dos itens administrados”, diz o texto da ata.

Sindicalista denuncia estocagem

Guilherme Voitch

O diretor de concorrência do Sindicom – Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes, Alísio Vaz, denunciou ontem que postos de todo País estariam estocando combustível. Segundo ele, o mercado sabe que vai haver reajuste e, por isso, os proprietários de postos estariam ?segurando? gasolina.

O presidente do Sindicato do Sindicombustíveis, Roberto Fregonese, diz que os postos têm de estar prontos para um eventual aumento, mas nega que haveria uma corrida às distribuidoras. “É claro que há uma preocupação natural, como em todo ramo de comércio. Se os clientes passarem a nos procurar com medo de aumento, teremos de ter uma determinada quantia extra de combustível para atender essa demanda”.

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