Direitos da cidadania

Definido o panorama nos 27 estados, tendo em vista os acordos formais e informais para a eleição de governadores e senadores, a realidade que salta aos olhos é a ineficácia do instituto da verticalização adotado em 2002 e confirmado – depois de alguma celeuma – para a eleição de outubro. Segundo a regra imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em tese os partidos são obrigados a reproduzir nos estados a coligação nacional, ou seja, a de presidente da República. Contudo, na matula utilizada pelos partidos para encaixar as peculiaridades contextuais, não seria nesse momento que a inesgotável sagacidade dos morubixabas da política brasileira deixaria de ignorar as vedações, inclusive as de caráter legal.

Por conseguinte, o princípio incorporado à legislação eleitoral vigente foi transformado em letra morta pelos dirigentes nacionais e regionais dos partidos mais expressivos. O desprezo acintoso ao rigorismo do TSE está configurado na situação vivida pela coligação PSDB-PFL, que lançou a dobradinha Geraldo Alckmin-José Jorge para concorrer à sucessão presidencial. De acordo com a verticalização, esses partidos estão obrigados a repetir nas eleições para governos estaduais e Senado a composição nacional, mas não é essa a realidade. Eles estão unidos na eleição regional em 14 estados, mas disputam com candidatos próprios ou apóiam nomes indicados por outros grêmios em 12 unidades federativas. Um saco de gatos.

Nos estados do Rio, Paraná, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Amazonas, Mato Grosso, Alagoas, Maranhão, Tocantins, Piauí e Rondônia não houve convergência entre PSDB e PFL quanto à formação das chapas coligadas, verificando-se em alguns deles um clima inamistoso próximo do rompimento. Na Bahia, por exemplo, o candidato Geraldo Alckmin viu-se constrangido a intervir na discussão e convencer o tucano José Carlos Fernandes a retirar a pré-candidatura ao governo, livrando do empecilho o pefelista Paulo Souto, candidato ?in pectore? do vice-rei Antônio Carlos Magalhães, cuja supremacia estava ameaçada e, em reação destruidora, prometia desencadear sobre o apavorado tucano toda a horda de exus dos terreiros soteropolitanos.

No Paraná, enquanto o PFL tomou a iniciativa de apoiar a candidatura de Rubens Bueno (PPS) entrando na composição informal com o candidato a vice-governador, Marcelo Puppi, o PSDB se dividiu em duas facções ora engalfinhadas numa insalubre peleja intramuros pelo domínio da executiva estadual e, pior, terçando armas para decidir se o partido estará ao lado de Requião ou de Osmar Dias, na disputa pelo Palácio Iguaçu. O assunto foi levado ao TRE, tendo em vista a suposta inclinação do diretório nacional pelo não-reconhecimento da convenção estadual que aprovou a aliança informal com o governador.

O tucanato desavindo com o apoio partidário à reeleição do governador encareceu ao diretório nacional que o mesmo terá papel preponderante na campanha do presidente Lula, tornando inexistente a possibilidade de Alckmin contar com palanques fortes no Estado. Dizem eles que esses palanques serão garantidos pelo senador Osmar Dias.

Em resumo, é no meio dessa sarabanda de alianças formais e informais que o eleitor deverá fazer sua opção, a de votar da melhor maneira possível, evitando banalizar mais uma vez a oportunidade de reivindicar os direitos da cidadania. O grande mérito estaria em decidir por antecipação: não votar em trânsfuga de legenda, mensaleiro, sanguessuga, demagogo ou mercador de votos no exercício do mandato.

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