Delegado promete revelar os “chefes da quadrilha do lixo” na CPI

O delegado seccional de Ribeirão Preto, Benedito Antônio Valencise, afirmou hoje (07) que no depoimento de quinta-feira à CPI dos Bingos, em Brasília, irá mencionar "detalhadamente" os nomes de todos os envolvidos nas fraudes da coleta de lixo e varrição de lixo do município do interior paulista, bem com a atribuição de cada um no esquema. "Me perguntem se existia uma quadrilha, e essa era uma quadrilha e vou falar o nome do chefe ou nomes dos chefes", avisou Valencise. "Quem quiser saber que assista ao meu depoimento à CPI."

Embora não tenha citado os nomes, especula-se que "os chefes" citados por Valencise são os ex-prefeitos petistas Antônio Palocci (2001-2002), atual ministro da Fazenda, e Gilberto Maggioni (2003-2004). "Um prefeito não pode dizer que ignora uma situação dessa por tanto tempo; e nessa dimensão o golpe não poderia ter sido feito pela faxineira ou pela copeira" emendou ele.

Valencise separou a documentação que levará aos senadores da CPI dos Bingos, tudo o que, segundo ele, comprova, "com a clareza de um sol de meio-dia", como diz, superfaturamento, falsidade ideológica, peculato e corrupção de agentes públicos. Na bagagem, algumas das 48 cópias de ordens de serviços fraudadas nas medições das varrições de rua, não executadas. Em resumo, o delegado disse que "mostrará o caminho do dinheiro", ou seja, como ocorriam as falsificações na Leão Leão, que sacava o dinheiro e repassava o dinheiro para os prefeitos, num esquema de propina, ou outras situações ainda a serem comprovadas pela investigação.

Segundo depoimento do advogado Rogério Tadeu Buratti, Palocci e Maggioni recebiam propina mensal de R$ 50 mil. Mas Valencise, pelas investigações feitas e pelas perícias da própria Polícia Civil, ainda não concluídas (devido aos muitos cruzamentos de ordens de serviço e de notas fiscais apreendidas) diz que o desvio no contrato do lixo e de varrição seria de pelo menos R$ 1 milhão mensais, o que totaliza pelo menos R$ 48 milhões nos quatro anos da gestão petista de Palocci e Maggioni. "São muitas provas e situações para se imputar a culpa a funcionários públicos simples, com milhões e milhões desviados."

Por tudo o que apurou até agora, ainda restando vários depoimentos, pelo menos sete pessoas serão indiciadas: Maggioni, Nelson Collela (ex-chefe da Casa Civil de Maggioni), Donizeti Rosa (ex-secretário de Governo de Palocci), Isabel Bordini (ex-superintendente do Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto/Daerp), os irmãos Luiz Cláudio Ferreira Leão e Carlos Alberto Ferreira Leão (ex-diretores da Leão Leão) e Luciana (ex-assistente de Isabel Bordini, que terá sua identificação completa divulgada na CPI). Também pode ser indiciado Wilney Barquete, ex-diretor da Leão Leão. Barquete iria depor na sexta-feira (10), mas devido a uma cirurgia num dos joelhos, tentou antecipar para hoje (07), o que não foi possível. Nova data será marcada ainda. Sobre o nome de Vladimir Poleto, nada há em definitivo que o incrimine ou aponte sua participação no esquema.

Palocci não poderá ser indiciado, pois é ministro e tem foro privilegiado. Como Palocci é citado e há suspeita de sua participação nos crimes investigados, ao final do inquérito policial Valencise deverá encaminhar a parte que cita o ministro à Procuradoria-Geral da República, que analisará o caso e definirá pelo arquivamento ou o destinará ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O que agrava ainda mais a afirmação do delegado de que houve fraude na varrição de rua em Ribeirão Preto é o depoimento de Eduardo Frediani (ex-funcionário da Leão Leão, responsável pela execução do trabalho de campo das equipes volantes), ouvido em fevereiro, em Campinas, pelo próprio Valencise. Frediani não detalhou ou confirmou que conhecia as fraudes, mas afirmou ignorar a existência das ordens de serviços nos bairros. "Permite-se concluir que os documentos são falsos", explica o delegado.

Amanhã vão depor na CPI dos Bingos três pessoas que trabalharam na gestão petista no Daerp – Mauro Pereira Júnior, Marilene do Nascimento Falsarella (ainda no departamento) e Paulo Henrique Antônio Negri. Eles deverão confirmar suas versões apresentadas na Polícia Civil. "Não acredito em hipótese alguma que eles mudem suas versões, e que alicerçam as provas documentais com muita segurança", afirma Valencise, emendando que as três pessoas são 100% confiáveis.

Na manhã de hoje (07), o delegado seccional recebeu documentos (boletins de medição da Leão Ambiental) da Comissão Especial de Estudos (CEE), da Câmara, que apontam para a fraude no serviço de varrição do Bosque Municipal, no ano de 2000, o último da gestão de Luiz Roberto Jábali (PSDB). A medição mensal apontava 48 quilômetros diários, superior aos 45 quilômetros diários da época petista.

Valencise vai analisar para definir se insere a investigação no atual inquérito. "Isso é uma gota no oceano, se houve irregularidade, mas o que mais superfaturou foi a varrição volante nos bairros", diz o delegado. "Se houve erro de metragem a mais e se houve desvio, não se sabe." Se concluir que houve fraude, o delegado ouvirá, entre outros, o atual superintendente do Daerp, Darvin José Alves, que dirigia o órgão na gestão de Jábali.

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