Defendendo a bomba

Responda rápido: A adesão brasileira ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares é boa ou ruim? Deve ser mantida, revogada ou revisada?

O candidato à Presidência da República que até aqui se encontra na dianteira das pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou a adesão brasileira ao tratado no recente encontro que teve com uma platéia de militares. Se o fez para ser simpático à platéia, como disseram alguns ou, como disseram outros, por desconhecimento total sobre o significado do tema, isso lá é problema seu. Pelo menos por enquanto. O fato é que ele criticou e, de flanco assim aberto, foi convenientemente atacado pelo adversário José Serra, que resumiu a ópera dizendo que o “Lulinha paz e amor” do horário gratuito da TV tem uma face que é a favor da bomba atômica.

Nada de mais. Tem gente que, municiada por milhões de argumentos, é contra. O debate, em vez de ser encarado com a naturalidade necessária, passou a escandalizar militantes. E não faltaram os que rotularam o candidato tucano de estar agindo de má-fé quando, na verdade, esse é um tema que deveria incomodar a todos. Afinal, você seria contra ou a favor de o Brasil produzir sua bomba atômica? Contra ou a favor de atacar o Iraque? Aliás, você é contra ou a favor ? mesmo nessa floresta insegura de nosso atribulado dia-a-dia ? de as pessoas andarem armadas?

A humanidade está vivendo momentos difíceis depois da apoteose alcançada pela ação terrorista no 11 de setembro, cujo aniversário foi recentemente comemorado. E as nações se dividem no debate que envolve a intenção norte-americana de continuar retaliando a qualquer custo e preço. Mas a não ser que deponham George W. Bush, ele é quem comanda o espetáculo por lá e todos pagarão o preço de sua eventual teimosia. Os norte-americanos talvez descubram tarde demais que elegeram o homem errado.

Os brasileiros também têm o direito de eleger o homem errado, mas seria mais prudente tentar acertar. E para acertar é preciso que todos conheçam o que de fato pensam seus candidatos preferidos. Sobre armas nucleares, armas domésticas, subsídios à agricultura e tudo o mais. Quanto mais, melhor. Lembrar, por exemplo, que Lula fe apologia do regime francês de subsídios à agricultura apenas para agradar um recalcitrante Bové não constitui baixaria. O tema continua momentoso e oportuno, muito mais sabendo-se que uma agricultura sem padrinho continua a âncora do Plano Real. Assim como vasculhar a vida pregressa de exilados também não pode ser pecado mortal numa democracia que pretende ser escrita com letras maiúsculas e no plural.

O que causa estranheza, sim, é essa fornada de candidatos cujo debate anódino torna todos muito semelhantes entre si, sem que o eleitor tenha condições de vislumbrar-lhes o rosto verdadeiro, quando seria necessário que deles conhecêssemos a alma. Ocorre assim com quase todos os temas de relevância para a vida da nação e das pessoas ? segurança, habitação, escola, impostos, estradas. Planos e programas são abordados com superficialidade, enquanto o tempo precioso de todos é gasto no aprofundamento das intrigas e futricas ou no lisonjeiro cortejar de desafetos alheios que não somam em conteúdo ou proposta ? apenas acidental apoio. É uma política miúda, que diminui também o tamanho desse país continental, cheio de problemas, sim, mas ainda cheio de esperanças.

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