Custo de vida

Viver em São Paulo é muito barato. Barato também viver no Rio de Janeiro. Parece piada, mas um levantamento da empresa de consultoria Mercer Human Resource Consulting, em 144 cidades do mundo, revela que, no ano passado, São Paulo figurava em 98.º lugar entre as cidades mais caras do mundo e agora passou à cômoda posição de 136.ª. O Rio foi do 99.º lugar para a 137.ª posição. O levantamento foi feito apenas em grandes cidades. Levou em conta gastos com comida, habitação, roupas, transporte e entretenimento e os preços, para fins estatísticos, foram dolarizados. Daí a conclusão, um tanto simplória, de que a melhor posição de São Paulo e Rio, neste ano, deve-se exclusivamente à desvalorização do real frente ao dólar.

É evidente que este é um parâmetro a ser considerado. Mas o que interessa aos brasileiros é saber por que, vivendo em um País onde a vida é das mais baratas do mundo, aqui há tanta pobreza, miséria e até fome. Os preços não são altos. Os salários é que são baixos. Em última instância, esta é a verdade. O PIB brasileiro, ou toda a riqueza que o País produz, a grosso modo é dividido entre os cidadãos, a classe patronal (empresas), o governo e os credores externos.

Essa relação é das mais injustas, pois aos trabalhadores é que menos se paga. Temos um salário mínimo de R$ 240,00. A maioria das aposentadorias e pensões pagas pela Previdência pública é nesse ínfimo valor.

Nas relações entre empregadores e empregados, empresas e trabalhadores, há um evidente desequilíbrio. A massa trabalhadora não recebe da repartição do bolo o que deveria caber-lhe e a classe patronal fica com a parte do leão. Por quê? Em parte, porque o leão, aí considerado o fisco, engole das empresas e patrões uma fatia dos ganhos que chega quase à metade. Como somos um País ainda carente de infra-estrutura e com longa história de desperdícios, o governo, nos seus três níveis, é um saco sem fundos e está sempre tomando mais e mais empréstimos. Endividado, perde a confiança do mercado, o que lhe exige oferecer juros extorsivos para poder rolar a dívida ou obter novos empréstimos.

Ainda existem mais problemas. Temos uma péssima distribuição de riquezas, que se evidencia entre regiões e mesmo dentro das mesmas cidades. Entre os que ganham mais e os que ganham menos há uma distância enorme. É interessante notar, no estudo a que nos referimos, que as cidades mais caras do mundo não são, necessariamente, as menos desenvolvidas. Entre elas estão Londres, Nova York, Copenhague, Tóquio, Milão e Hong Kong. Assunção, no Paraguai, ganhou o lugar de cidade mais barata, substituindo Johannesburgo, na África do Sul, que ostentava o título no ano passado. Podemos tirar algumas ilações desse levantamento. Em primeiro lugar, ele demonstra que o custo de vida barato não significa riqueza. Pelo contrário, é sinal de pobreza e má distribuição de rendas. Aponta-nos para caminhos que não temos percorrido. Precisamos nos preocupar com produtividade e produção e, para isso, com poupança, para gerar capitais internos que tornem o nosso País auto-sustentável. Necessitamos nos descolar da dependência excessiva de empréstimos externos. E, antes de mais nada, ensinar os nossos trabalhadores a reivindicar racionalmente seus direitos. Ao invés de reclamar que o custo de vida está caro, melhor considerar se não são os salários que estão muito baixos.

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