Dificuldade tecnológica

Voluntários ajudam 220 famílias carentes de Curitiba a se cadastrar no app do auxílio de R$ 600

Voluntários auxiliam moradores da Vila Torres com tecnologia. Foto: Letícia Silva / colaboração.

A dificuldade em lidar com tecnologia tem feito milhões de brasileiros sofrer nas filas gigantes nas agências da Caixa para buscar o auxílio de R$ 600 durante a pandemia do coronavírus. As dificuldades vão desde falta de hábito em acessar a internet até mesmo ausência de qualquer aparelho que dê acesso à rede. Para ajudar este público carente, quatro voluntários estão orientando os moradores da Vila Torres, a favela mais antiga de Curitiba, a se cadastrar no aplicativo da Caixa para ter acesso ao recurso.

As orientações são na Capela Nossa Senhora Aparecida e o trabalho dos quatro voluntários já está fazendo toda a diferença para 220 famílias carentes em apenas 25 dias. A ação iniciou com mutirões voluntários, que acontecem aos sábados pela manhã.

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“A gente percebeu a necessidade desses atendimentos de tecnologia. Quando a gente fazia outras ações voluntárias, as pessoas nos perguntavam sobre como conseguir o auxílio. Então a gente começou a fazer esses mutirões para auxiliar no cadastro na Caixa junto com a distribuição de cestas básicas”, explica a analista administrativa Letícia Silva, que atua como catequista na paróquia há quatro anos.

Letícia e outros três voluntários receberam treinamento do Grupo Marista para auxiliar as famílias. “A gente acessa os aplicativos do governo, como o Caixa Tem e o Cadastro Único, já que muitos moradores são carentes e já recebem benefícios como o Bolsa Família. Quem tem Cadastro Único não precisa fazer o pedido pelo auxílio, ele cai direto, mas muitas famílias não sabem disso”, explica a voluntária. Para ela, a falta de informações é uma das principais dificuldades.

Como são famílias carentes, a falta de um aparelho de celular também é outra dificuldade, junto com a burocracia. “Tem uma senhora que está cuidando do marido com diabetes e outras doenças graves e não está consegue sacar o valor para comprar medicamento. Ela diz que arroz e feijão ela tem, mas precisa do dinheiro para comprar remédio”, conta a voluntária. 

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Outra história comovente é a de um jovem pai de 24 anos, catador de recicláveis. “Ele conseguiu todas as informações, documentos, tudo liberado, mas não conseguiu sacar o valor porque precisava de um código que foi enviado para um celular antigo. Mesmo com todos os documentos, com filho recém nascido em casa, ele não conseguiu o benefício”, lamenta Letícia.

Realidade que comove 

Para a voluntária Letícia, que acompanha as crianças da catequese da capela há quatro anos, o trabalho na Vila Torres tem feito ela repensar muitos problemas. “Um dia, num final de entrega de marmitas, só tinha mais duas na caixa e chegou uma família, um casal e duas crianças. Entregamos as duas marmitas mas vi que as crianças ficaram com fome. Aquele dia eu voltei para casa e não consegui comer”, relembra. 

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Letícia está trabalhando home office desde o dia 10 de março e a empresa em que ela é contratada garantiu emprego até 30 de maio. Depois, provavelmente vai estar desempregada. “Mas minha situação não é nada em relação ao que tenho visto aqui na paróquia. Parei de reclamar da minha luta diária. Meu umbigo é muito pequeno em vista das outras situações. É um tapa na cara”, desabafa. 

Ajuda a quem tem fome

Além do auxílio tecnológico, a Capela Nossa Senhora Aparecida, que pertence a Paróquia São João Batista, também está distribuindo cestas básicas, produtos de higiene e marmitas às quartas-feiras. “O que a gente mais precisa é de produtos não-perecíveis para as cestas básicas. Estamos mantendo muitas famílias agora, 70% dos moradores da Vila Torres são de catadores de papel. E agora eles não tem como recolher, voltam de carrinho vazio, não tem mais sustento”, explica o padre redentorista da comunidade Joaquim Parron.

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Padre Parron diz que quer “dar o peixe, mas também ensinar a pescar”. “Queremos valorizar o comércio local. Queremos buscar ajudar as pessoas que costuram. Fazer com que ferreiros ajudem fazendo carrinhos para os catadores de papel, tentar gerar a economia internamente com conscientização e cidadania”, salienta.

Quer ajudar?

A capela está recebendo doações de alimentos, produtos de higiene, máscaras caseiras e também de dinheiro. As doações podem ser entregues diretamente na capela, que fica na Rua Guabirotuba, nº 770. A comunidade também recebe doações financeiras, utilizado para a compra de vale-gás. “Não entregamos dinheiro na mão de ninguém e prestamos conta de todas as doações que recebemos”, explica a voluntária Letícia.

Para mais detalhes sobre as doações, a capela disponibiliza um número de WhatsApp (41) 98752-8047. As informações também podem ser acessadas na página do Facebook da comunidade.


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