Investigação não para

MP quer prontuários do caso do bebê que morreu na fila da UTI

A Promotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de Curitiba, do Ministério Público, já solicitou à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Boa Vista o prontuário médico do bebê Davi Luccas Alves, de 47 dias, que morreu na unidade sexta-feira de manhã. A ficha de atendimento do Samu também foi solicitada e, dentro de alguns dias, os pais do bebê devem ser chamados para prestar depoimento. O objetivo é investigar se houve alguma falha no atendimento à criança, que morreu de uma bronquiolite viral aguda e insuficiência respiratória depois de ficar quase sete horas esperando por uma vaga em UTI neonatal.

A promotora Fernanda Nagl Garcez contou que a Promotoria está fazendo um trabalho de apuração da quantidade de leitos existentes em todo o Paraná. Mas não é possível dizer de forma generalizada se sobram ou faltam leitos, pois esta análise tem que ser feita de acordo com cada área médica. Houve aumento dos leitos nos últimos anos. Para alguns casos clínicos, existem espaços suficientes. Para outros, como por exemplo UTI neonatal e pediátrica, ainda faltam vagas. E quando faltam leitos no SUS, as secretarias de saúde (municipais e estadual) tem autonomia e respaldo jurídico de comprar leitos da rede privada. No caso do bebê, havia vaga na UTI neonatal de um hospital particular. E apesar do SUS ter feito consulta para saber se havia a vaga, o pedido não foi formalizado. Mas a promotora não quis se pronunciar sobre o caso do bebê, já que ainda não analisou toda a documentação.

Falta informação

Fernanda contou que, por dia, a Promotoria atende entre 10 e 12 pessoas, com queixas diversas sobre o atendimento público de saúde. No entanto, quase metade destes reclamantes são famílias que não receberam informações adequadas da equipe médica. A promotora explica que há pacientes em que seu caso clínico permite aguardar mais por um leito mais do que outros pacientes, em situações de saúde mais urgente. No entanto, muitos médicos esquecem de explicar a situação à família, fazendo com que estas pessoas sintam-se esquecidas, largadas num corredor. “Os médicos esquecem de explicar que, mesmo dentro de uma UPA, por exemplo, a pessoa não está sem atendimento. O paciente continua recebendo medicação e fazendo exames enquanto espera por uma UTI. O quadro clínico está sendo acompanhado. Mas o esquecimento dos médicos em dizer tudo isto à família faz com que o paciente se sinta esquecido”, diz a promotora.

Rotatividade

A promotora reconhece que as secretarias de saúde tem capacitado os médicos. No entanto, ressalta que os cursos e orientações não são suficientes, até por causa da alta rotatividade das equipes médicas nas unidades básicas de saúde e nas unidades de pronto atendimento. Diante da baixa remuneração e da falta de estrutura, muitos desistem em pouco tempo do emprego. Por isto, a capacitação para um atendimento mais humanizado tem que ser constante.