O inquérito que investigou as causas da explosão na fábrica da Enaex Brasil, em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba, foi concluído nesta quinta-feira (09/10). O acidente, que aconteceu no Edifício 44, conhecido como “Carregamento de Cargas Especiais”, resultou na morte de nove funcionários. A investigação apontou que não houve crime doloso ou culposo, mas indicou falhas sistêmicas na gestão de risco da empresa que podem ter contribuído para a tragédia.
O trabalho de apuração foi baseado em depoimentos de funcionários, imagens de câmeras de monitoramento, laudos periciais, relatórios técnicos da própria empresa e mensagens extraídas de canais corporativos. Essa análise detalhada permitiu identificar problemas estruturais e operacionais que culminaram na explosão.
Segundo a delegada Gessica Andrade, responsável pelo inquérito, havia indícios de falhas de manutenção e sinais de corrosão em equipamentos essenciais. “Muitas manutenções eram realizadas durante o expediente e de forma paliativa. Algumas soluções improvisadas, o que não é o esperado em uma fábrica de explosivos”, afirmou.
A investigação também revelou dificuldades recorrentes no controle térmico da mistura explosiva utilizada nos busters, dispositivos de detonação produzidos pela empresa. “O equipamento era ajustado para operar em uma temperatura abaixo da temperatura de fluidificação do material”, explicou.
Com o frio do dia, a polícia trabalha com o indício de que a pentolite — mistura de TNT com nitropenta — pode ter solidificado. Ao se chocar com as pás do misturador, que provavelmente estavam com torque maior do que o adequado, uma faísca pode ter provocado a explosão.
Matéria prima com problemas
Outro fator analisado foi a contaminação da matéria-prima. Relatos de colaboradores e imagens indicaram que a nitropenta continha detritos de borracha ou plástico e, em um caso, dentro dos misturadores, foi encontrada uma porca. “Esses resíduos não seriam suficientes para causar a explosão, mas, se vinha borracha, poderia vir algum outro material metálico”, comentou a delegada.
Apesar de outras irregularidades nos procedimentos da empresa, o inquérito apontou que a falha dos equipamentos teve maior probabilidade de ser a causa imediata da explosão, classificando o caso como um acidente industrial de causa não totalmente identificada.
A investigação concluiu que não houve conduta dolosa nem culposa de funcionários da Enaex Brasil em relação às mortes. De acordo com a legislação penal brasileira, pessoas jurídicas não podem ser responsabilizadas criminalmente por homicídio, portanto, a empresa não responderá nessa esfera. No entanto, ainda é possível que sejam apuradas responsabilidades nas áreas trabalhista, cível e administrativa.
Relembre o caso
A explosão aconteceu no dia 12 de agosto, pouco depois das 5h30, na unidade da Enaex Brasil (antiga Britanite), localizada no quilômetro 1 da BR-116 (Régis Bittencourt). Embora não tenha havido incêndio, moradores relataram ter visto fumaça no momento do impacto.
A área foi evacuada por causa do risco de novos acidentes, já que o local armazenava grande quantidade de explosivos. A fábrica, que integra um grupo presente em cinco continentes, opera 24 horas por dia. Em 2004, a mesma unidade já havia registrado uma explosão, que resultou na morte de dois trabalhadores.
