Expedição revela situação dos rios da ‘capital ecológica’

Doze dias e aproximadamente 142 quilômetros foram suficientes para o jornalista Eduardo Fenianos, o Urbenauta, constatar que o título de capital ecológica sustentado por Curitiba foi pelo esgoto abaixo. Dezesseis anos depois da primeira expedição que percorreu os rios da cidade, o jornalista refez o trajeto e concluiu que a situação é pior que em São Paulo. Os cinco grandes rios que formam a bacia hidrográfica de Curitiba – Belém, Atuba, Barigui, Passaúna e Iguaçu – estão poluídos.

“Fui a campo para fazer um trabalho que as autoridades deveriam fazer, que é sair de seus gabinetes, das suas salas perfumadas, e ir pra rua. No caso, ir para o rio e colocar o pé no esgoto”, critica. O resultado foi um choque para Eduardo, que ficou muito angustiado em constatar a situação precária dos rios e da cidade. “Curitiba não é mais aquela cidade limpa. Não há mais respeito ao planejamento urbano. Edifícios históricos estão sendo destruídos. A cidade está passando por um processo de sãopaulinização”, diagnostica. Ou até pior. “Naveguei pelo Rio Tietê e o que vi em Curitiba é muito pior do que lá”.

Mapa

No início dessa segunda expedição, o jornalista observou que a carta topográfica de Curitiba não era mais a mesma. “O mapa é de 1953. O detalhe é que 95% do limite da cidade são feitos por rios. Curitiba é quase uma ilha! E se os rios mudaram seu traçado, o mapa também mudou”, diz. Com apoio do professor Raul Friedmann, da Universidade Tecnológica do Paraná (UTPFR), o mapa antigo foi inserido no GPS. “Todo o traçado foi sobreposto no Google Earth. O relatório final, que vai dizer se Curitiba ganhou ou perdeu território, está prestes a ser concluído. Vamos apresentar um novo contorn

Negligência e falta de educação

Outra meta foi analisar a qualidade dos rios. Eduardo chegou a pegar diarreia, que durou quatro dias, e quase colocou em risco a viagem. No nono dia, o bote virou no Rio Barigui, no Pilarzinho, e ele foi resgatado pelos bombeiros.

Toda a viagem foi documentada. Equipamentos cedidos pela UFPR analisaram o pH da água e indicativos de poluição. Sementes de árvores nativas, como aroeira, pitanga, bracatinga e palmito, foram plantadas principalmente na região norte. “Infelizmente não conseguimos plantar em todos, porque tinha área tão assoreada que não deu, como nos rios Barigui e Iguaçu”. Este, que tinha 48 quilômetros na primeira expedição, agora tem só 28.

Para Eduardo, a culpa da degradação é um misto da negligência dos administradores públicos e da falta de educação da população. “Existem ligações irregulares em casas que não estão ligadas às redes de esgoto. Certamente há pessoas que pagam R$ 24,09 por mês e não recebem tratamento”.

No percurso, o jornalista encontrou material descartado suficiente para equipar uma casa. “Parecia que tinha uma loja de eletrodomésticos no rio, como televisores antigos. Tinha ainda uma dezena de chassis de carro, carrinho de bebê, capacete de moto e sofá”.

Esperança nas nascentes

Apesar da devastação, a grande esperança se chama Arrroio Cachoeira, rio que nasce no Cachoeira, limite com Almirante Tamandaré, e é formador do Rio Atuba. “Nosso marco zero é a Praça Tiradentes, mas em 1648 os bandeirantes já estavam lá na região”. Suas nascentes estão preservadas e passam debaixo do asfalto. Mas depois de correr duzentos metros, já existe esgoto ilegal. “Esse é o diamante que encontramos. Não adianta focarmos no Rio Belém, o mais poluído de todos. Temos que preservar as nascentes urgentemente”.
<,br />Para Eduardo, o trabalho de revitalização deve ser focado nos 478 córregos que deságuam nos cinco grandes rios. “Vamos preservar o que está escondido na mata. Durante a expedição contamos 30 nascentes”, diz o jornalista, que já planeja dar aulas de educação ambiental para crianças em sua própria casa. O relatório da expedição será entregue às autoridades.

Confira no vídeo a conversa com o Urbenauta.