Ex-funcionário de uma montadora automotiva na Região Metropolitana de Curitiba, Cristiano Ianckoski precisou apenas mudar a escala do trabalho para descobrir uma nova habilidade. Hoje, ele é referência na customização de miniaturas em Curitiba, fruto de uma transição iniciada ainda na pandemia e que já lhe rendeu reconhecimentos nacionais, expostos com orgulho logo na entrada do Iancks Chaveiro, a loja que administra no bairro Cidade Industrial.
A descoberta dessa nova aptidão surgiu de forma inesperada durante a pandemia. Após firmar um acordo com a empresa à qual dedicou 13 anos, Cristiano recebeu uma boa proposta de demissão e decidiu aproveitar a oportunidade. Foi então que, por acaso, um de seus filhos apareceu com um carrinho Hot Wheels danificado e pediu ajuda. “‘Pai, arruma meu carrinho?’ foi o que ele me disse”, relembra. Com algumas tintas que já tinha em casa, desmontou toda a miniatura, refez a pintura e devolveu o brinquedo para o menino.
A vitrine improvisada do carrinho único chamou a atenção de amigos que já colecionavam miniaturas por hobby. Entre mensagens trocadas pelo WhatsApp, surgiu o primeiro convite para participar de uma competição on-line. O tema era Rusty, dedicado aos clássicos modelos enferrujados. “Foi meu primeiro concurso e ganhei. Começou aquele alvoroço: ‘primeira vez e já ganha’? No próximo, ganhei de novo”, recorda.
Com o tempo, novos convites foram surgindo, e o estilo de Cristiano já não passava despercebido. Em eventos presenciais, bastava colocar suas miniaturas na mesa para provocar reação imediata nos concorrentes. “No concurso mais difícil que participei, levei um caminhão. Naquela época eu até ganhei até troféu. Lembro que quando coloquei em cima da mesa de exposição, os caras começaram a tirar as deles”, conta, lembrando da cena que marcou sua entrada definitiva no universo das customizações.






Montadora própria — em miniatura
Fora das competições, os primeiros pedidos que Cristiano recebeu foram de customização de miniaturas inspiradas em carros reais. No universo dos colecionadores, a fidelidade ao modelo original é o que mais pesa e esse cuidado se tornou sua marca. “Teve um filho que comprou um Porsche para o pai. Como não existia no mercado uma miniatura exatamente na mesma cor, ele me trouxe o modelo e pediu para customizar para entregar junto com o carro”, conta.
A tinta usada na miniatura precisou ser produzida exclusivamente para aquele pedido. Para os apaixonados por miniaturas, esse nível de detalhamento compensa qualquer esforço. O próprio Cristiano é exemplo disso: ele customizou seu Passat antigo reproduzindo até a placa original.
Para alcançar esse nível de realismo, ele começou estudando técnicas pela internet e testando tudo, sempre no esquema clássico de tentativa e erro. As customizações no estilo rusty, por exemplo, agora podem ser feitas usando liga de alumínio para criar ferrugem real ou com camadas de tinta que simulam a deterioração do tempo. No caminhão que conquistou o título em uma das competições, por exemplo, ele trabalhou durante dois meses usando materiais diversos, de durepoxi a arame, sempre ajustando cada detalhe até chegar ao resultado final.
As ferramentas que ganhou em competições também abriram novos caminhos de criação. Grande parte delas é vendida em lojas voltadas para dentistas e ourives, profissionais habituados a trabalhar com precisão milimétrica somada à criatividade. “Fiz um com tema pós-apocalíptico inspirado no Mad Max e até hoje me pergunto de onde tirei a ideia de fazer uma porta costurada com arame”, relembra.
Outra mão na roda veio quando passou a investir em materiais de maior qualidade, como pneus de borracha que substituem as versões plásticas e dão mais realismo às miniaturas. A curiosidade abriu caminho para fornecedores no México e na Indonésia, ampliando o arsenal de peças usadas nas criações. Com o tempo, o trabalho se tornou praticamente o mesmo de uma oficina — só que em escala reduzida. “São os mesmos componentes: fundo, preparação, lixamento… É uma microoficina. Você corta o que dá, serra o que dá e coloca o que também dá”, resume.
Oficina no chaveiro
Em novos projetos, boa parte do serviço ainda nasce do improviso, testando cores novas, texturas diferentes ou materiais que não estavam no plano inicial. Hoje, porém, com a técnica já dominada, o processo começa no computador, onde Cristiano redimensiona as artes, ajusta detalhes e prepara os decalques que depois serão aplicados à mão nas miniaturas.







Com o uso de produtos semelhantes aos de uma oficina automotiva, ele precisou reorganizar o espaço de trabalho várias vezes. Saiu do quarto de casa, voltou para a loja e, aos poucos, transformou a área atrás do balcão do chaveiro em uma pequena linha de produção. Enquanto isso, a coleção particular com mais de 3 mil carrinhos encaixotada segue no plano de ganhar um quarto exclusivo no futuro.
O chaveiro, no entanto, é o coração do negócio e sustento principal da família. Cristiano aprendeu o ofício cedo, aos 12 anos, com o tio que mantinha uma loja na Galeria Tijucas. Na vida adulta, decidiu trabalhar com soldagem para juntar dinheiro e abrir um negócio próprio. “Foquei em três anos para guardar dinheiro. Quando vi passaram cinco anos, dez… e eu estava ali há 13 anos”, conta.
A virada veio na pandemia, quando a empresa ofereceu um Plano de Demissão Voluntária (PDV). Na mesma época, o tio renunciou ao ponto do CIC. Incentivado pela esposa, Cristiano reformou o espaço, assumiu o chaveiro em 2022 e logo virou referência. Como único chaveiro da região, passou a atender moradores do Ecoville e indústrias do entorno.
Mesmo reconhecido nas competições de miniaturas, ele é direto: o hobby não supera o trabalho. “Não largo o serviço aqui para fazer customização, mas faço no meu tempo”, destaca. Ainda assim, segue atendendo alguns pedidos especiais, como o de dois irmãos, de cinco e nove anos, que todos os anos pedem uma miniatura feita a partir de desenhos próprios.
O passatempo funciona como uma extensão do que ele mais valoriza: o tempo ao lado dos filhos. O mais velho guarda o primeiro carrinho feito pelo pai e já começou a personalizar a própria coleção. Presente em eventos nacionais e em contato com colecionadores de outros países, Cristiano aproveita as feiras como chance de viajar com a família. Com um estilo já reconhecido, firmou parcerias com outros artistas, sempre movido pelo processo criativo. Para ele, a arte só pode ser paga com arte.
Serviço
Iancks Chaveiro
Endereço: Rua Robert Redzimski, nº 208, no bairro Cidade Industrial de Curitiba
Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 8h às 19h; e aos sábados, das 8h às 13h
Contato: (41) 99943-3103
Página de miniaturas: @ianckscustom



