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Adolescente que matou tia a facadas era bom aluno

A polícia investiga o que teria levado um garoto, de 14 anos, aluno do tradicional Colégio da Polícia Militar desde 2010, com boas notas, disciplinado, com namorada na mesma escola, ter assassinado a tia, de 43 anos, funcionária do HSBC, com mais de 30 facadas na madrugada de quinta-feira (7).

De acordo com o comandante do Colégio, o major Josseguai Ribeiro, nesses mais de quatro anos que o garoto está na instituição, ele nunca foi citado por problemas de comportamento, sempre apresentou bom relacionamento com os colegas e era a tia que comparecia nas reuniões de entrega de boletim.

Marco Andre Lima
Major Josseguai: aluno tranquilo.

“No ano passado, fizemos um trabalho especial com palestras de psicólogos para os alunos sobre bullying e abrimos espaço para que eles pudessem conversar com os profissionais também. Nada de diferente foi percebido em relação a esse menino. Estamos muito chocados com tudo isso”, ressaltou o major.

A diretora do turno da tarde, Maria Fernanda de Carvalho de Deus, disse que algumas alunas a procuraram na diretoria para contar que o garoto costumava postar em redes sociais fotos e textos de apologia à violência. “Para nós foi uma surpresa, porque aqui na escola ele sempre se portou muito bem”.

Quarto

Segundo a perita do Instituto de Criminalística Maria do Rocio, o quarto do menino era como o de muitos adolescentes. “Ao mesmo tempo em que tinham as máscaras e pôsteres de filmes, tinham também fotografias de família e uma menção honrosa da escola”, disse. Não foram encontrados vestígios de drogas.

Sobre a máscara encontrada no quarto do crime, a perita afirmou que não há como afirmar se ele a usou ao atacar a tia. “Muita gente entrou na casa, não sabemos como a máscara foi parar lá”, explicou. Maria contou que tinha sangue por todo o sobrado, mas a tia deve ter permanecido no quarto.

Jogos

O garoto gostava bastante de videogames violentos, com o GTA, em que o jogador assume o papel de bandido. Segundo uma vizinha, que preferiu não se identificar, e entrou na casa após o crime, no quarto do menino foi encontrado um livro que ensinava a fazer armas caseiras e havia diversas máscaras de personagens de filme de terror.

A professora da Universidade Tuiuti do Paraná, com atuação na área de psicologia forense, Giovana Munhoz da Rocha, explicou que é muito difícil de traçar o perfil do adolescente sem ter conversado com ele. “É bastante improvável que uma pessoa com algum transtorno ou psicopatia sofrer um surto só aos 14 anos”, explicou.

Com relação à influência dos videogames, a professora alerta que muitos jogos podem estimular a manifestação de um comportamento agressivo. “É muito difícil apenas a prática de um jogo violento levar alguém a cometer um crime dessa natureza”, acrescentou.

Alerta

A professora alerta aos pais para o comportamento dos filhos, verificar quanto tempo estão despendendo para os jogos em detrimento de outras atividades sociais e esportivas, por exemplo. Outra dica é observar se estão se comportando como os personagens dos jogos, se vestindo da mesma forma. “Tenho um paciente que tinha essas atitudes e, além disso, emagreceu 12 quilos, porque só pensava em jogar. É preciso ter cuidado”, exemplificou.

A polícia investiga a possibilidade de o crime ter sido premeditado, já que tia e sobrinho estavam sozinhos no momento e o garoto a atacou enquanto ela dormia. O marido da vítima, que mora na casa, havia viajado a trabalhado, para Londres, na segunda-feira. Ele trabalha no mesmo banco que a esposa.

João Carlos Frig&e,acute;rio/Estadão Conteúdo