O caso de uma criança com autismo encontrada amarrada em uma escola particular em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, tem gerado novas denúncias. Felipe Brandão e Sandi Stefani receberam informações de ex-professoras de que os filhos deles também sofreram maus-tratos quando eram alunos da instituição
De acordo com o casal, eles matricularam os dois filhos na escola Shanduca em 2023. Na época, o mais velho faria três anos e o caçula tinha um ano de idade. Ambos ficaram na instituição cerca de oito meses. Segundo Felipe, neste meio tempo, foi possível notar mudanças drásticas no comportamento do mais velho.
Segundo o pai, a criança ficou mais violenta e voltava da escola gritando. Ao cobrar uma resposta da instituição, Felipe se recorda que a justificativa dada pelas professoras era de que a mudança de comportamento fazia parte do processo de adaptação.
Quando o caso da criança encontrada amarrada no banheiro veio a público, Felipe começou a receber relatos de ex-professoras da instituição. Segundo ele, elas relatam episódios de violência psicológica e até mesmo físicas.
“Tinham momentos em que as crianças queriam dormir e o mais velho não queria. Trancaram ele em uma outra sala sozinho, deixaram ele preso nessa sala”, conta Felipe.
Segundo Felipe, uma característica do filho mais velho é de que ele demora para comer. Em um episódio relatado por uma ex-professora ao pai, ela diz que a escola teria servido um prato de comida para a criança, colocado o prato na frente dele, tirado uma foto para, em seguida, retirar o prato da criança, impedindo que o menino se alimentasse.
“A professora relatou que teve dias que ele passou só com uma bolacha dentro do estômago”, conta Felipe.
Outro episódio relatado à família é de que o menino de quase três anos estaria cantando e teriam mandado ele “calar a boca”.
Em relação ao filho mais novo do casal, uma ex-professora relatou que a diretora mandava deixar ele deitado o dia todo e regulava o leite que a própria família enviava para a alimentação da criança.
Um trauma que fica para vida
Para o pai, os relatos recebidos provam que é só o começo de uma história absurda que, aos poucos, vai ganhado novos episódios.
“Acho que isso é a ponta do iceberg, se elas faziam esse tipo de coisa de amarrar, não duvido que não tenha acontecido coisa parecida com o meu filho”.
Segundo Felipe, ele e a esposa registraram um boletim de ocorrência a partir dos relatos recebidos e vão entrar na justiça para que os responsáveis sejam punidos pelos crimes cometidos.
“Até hoje ele tem esses traumas. Ficou nele. A gente está lutando para que ele melhore. Realmente é uma dor no coração. Nós não esperávamos que algo fosse acontecer, porque a gente pagava para cuidarem dos nossos filhos”, lamenta Felipe.
De acordo com a Polícia Civil do Paraná, a instituição segue investigando todas as denúncias envolvendo maus-tratos cometidos contra menores da escola Shanduca, incluindo o caso do filho de Felipe.
Terceiro caso relatado em uma semana
Nas redes sociais, o vereador de Araucária Olizandro Júnior (MDB) tornou público outro episódio envolvendo uma menina de três anos. Em vídeo, ele mostrou prints enviados por familiares da criança, que relataram que a filha foi agredida, amarrada e trancada na escola.
As mensagens também indicam que uma professora teria colocado álcool em gel na boca da criança como forma de punição. Veja a gravação do vereador abaixo:
Em entrevista à Tribuna, o Conselho Tutelar de Araucária informou que realizou uma reunião colegiada na manhã desta quarta-feira (09) para discutir as denúncias apresentadas pelo vereador. O vereador será chamado ao Conselho para fornecer informações sobre os denunciantes para que medidas possam ser tomadas.
O Conselho Tutelar de Araucária informou ainda que está acompanhando o caso e que já aplicou medidas cautelares de proteção à criança, que agora foi transferida para uma escola da rede municipal.
A Prefeitura de Araucária afirmou que o que cabia ao município foi feito: a Guarda Municipal acompanhou a visita do Conselho Tutelar e inclusive prendeu a professora responsável em flagrante. Além disso, a Secretaria Municipal de Educação encaminhou na segunda-feira (07) um ofício ao Conselho Municipal de Educação solicitando que “sejam adotadas, com a máxima urgência, todas as providências cabíveis para a apuração rigorosa dos fatos e a devida responsabilização dos eventuais envolvidos”.
Relembre o primeiro caso
Na segunda-feira (07), uma denúncia levou à prisão de uma professora da escola em Araucária. O caso que motivou a investigação começou na última sexta-feira (04), quando a mãe de uma criança com autismo encontrou o filho amarrado pelos pulsos com um pano de prato, dentro do banheiro da escola.

Segundo a Polícia Civil, a professora segue presa e deve passar por uma audiência de custódia.
A criança não é verbal e não conseguiu relatar o que havia acontecido. A situação gerou revolta nas redes sociais.
Em nota, o Ministério Público do Paraná informou que já requereu prisão preventiva da professora presa em flagrante na segunda-feira (07).
Além disso, o MP disse que ainda aguarda o regular desfecho da investigação policial envolvendo o primeiro caso e eventuais outros cuja comunicação já tenha sido realizada ou que tenham chegado ao conhecimento da autoridade policial responsável.
A Secretaria Municipal de Educação de Araucária (SMED) afirmou, em nota, que repudia qualquer conduta que viole os direitos da criança e adolescente, especialmente no ambiente escolar.
“A SMED segue acompanhando o caso de perto e reforça que não tolera condutas que desrespeitem os princípios éticos e legais que norteiam a educação pública em nosso município”, informa a nota.
E aí, Shanduca?
Após o primeiro caso vir à tona a escola publicou um posicionamento. Pelas redes sociais, a diretora da escola Shanduca – Berçário e Pré Escola, Danieli Zimermann, afirma que abomina a atitude da professora e ressalta que o caso ocorreu durante o seu afastamento por causa de um atestado médico.
Nesta quarta (09), as redes sociais da escola foram excluídas. A reportagem da Tribuna tentou contato com a diretora para entender as novas denúncias, mas não teve retorno até a publicação.



