Cruzeiro, cruzado, real, metarreal

Basta pronunciar o sufixo ?lhões?, para se induzir à idéia de que é muito dinheiro. Uma obra pode ser barata, custando dez, vinte, trinta bilhões. Pode ser caríssima, custando um, dois ou três milhões.

Ganhando um ?lhão?, desde que no campo das finanças, eu já ficaria contente! Mas, para um país, a escala é outra.

(Na época da inflação galopante, minha mãe, já velhinha, não suportou tanta variação nos preços do mercado e criou sua própria referência. Para ela, um quilo de arroz não podia custar mais que meio quilo de café, por exemplo. Uma espécie de cálculo escambador, ficando a moeda como coadjuvante. Assim, ela sabia se as coisas estavam mais caras ou mais baratas. O quilo do café passou a ser o seu padrão monetário).

Por isso e outros, amparados em experiências passadas, vamos inventar uma moeda filosoficamente estável, paralela ao Real.

Seja bem-vindo o Metarreal, símbolo Mr$.

Considerando que, nas transações governamentais, geralmente, é de vinte e cinco por cento o valor das propinas e derivados, vamos fixar o valor-base do Metarreal em vinte e cinco centavos.

Matematicamente, Mr$ 1,00 = R$ 0,25.

No governo dos tucanos, o valor do Metarreal era um pouco maior e a diferença era financiada pelo BNDES, nos processos de privatização, com direito a imagem de televisão, mostrando três satisfeitos dirigentes segurando e batendo o mesmo cabo de martelo. O menos importante, ou menos aquinhoado, satisfazia-se com o cotoco.

Para efeito de mercado internacional, hoje, com o dólar baixo, Mr$ 1,00 = US$ 0,55.

Qualquer diferença inexplicável pela aritmética é devido à variação cambial, influenciada pela Prime Rate, que deve ser corrigida pela Taxa Selic e com deságio aplicado de acordo com as últimas normas do Conselho Econômico Nacional, descontado o imposto de renda, com ajuste feito pelo ábaco disponível na página eletrônica do Ministério da Fazenda, desde que o pagamento ocorra no mesmo mês do cálculo. Simples! Se não for, deverão ser aplicados juros de 5% ao mês, nos primeiros quinze dias, e 6,75 % nos restante do mês, além de multa de 4,38%. Se o devedor tiver mais de 65 anos, terá 14,3% de desconto. Se tiver filhos cursando o primeiro grau, vinte pontos percentuais por moleque, observando-se o limite de oitenta por cento (quatro filhos cursando o primeiro grau). Se tiver mais de 65 anos e quatro filhos no primeiro grau, manda matar este velho, pois ele é um perigo para a sociedade.

Assim, tudo que for de fato aplicado no interesse público e custar menos que quatro vezes o valor de seu fator comparativo é barato ou, como se diz hoje em dia, ambientalmente sustentável.

Vamos ao caso (case, como dizem os consultores).

Vamos fazer uma comparação (benchmarking, como dizem os informáticos).

A viagem de um brasileiro ao espaço custou dez milhões de dólares, ou seja, Mr$ 5.500.000,00 (cinco milhões e quinhentos mil metarreais).

Um prédio desses, construídos para servir a um único tribunal e que tem gabinetes maiores e mais suntuosos do que um apartamento de quatro quartos, com frente para o mar, pode medir algo em torno de dez mil metros quadrados.

Um metro quadrado desse tipo de construção chega a dois mil e quinhentos reais por metro quadrado. Ou mais!

Assim, o investimento é de

US$ 11.360.000 aproximadamente. Ou Mr$ 6.248.000,00.

Considerando-se que o desperdício de espaço físico é da ordem de três vezes, o montante deve ser corrigido para Mr$ 18.750.000,00.

Multiplica-se por dois, por conta de móveis e equipamentos para os gabinetes, auditórios, restaurantes, cabeleireiros, casas de banho, pet-houses, caraoquês, etc.

Chega-se a Mr$ 37.500.000,00, ou seja, algo que ultrapassa quatro vezes o valor da viagem espacial.

Esta última pode dar lucros de diversas formas e nenhum prejuízo, mas ao tribunal devem ser atribuídos, ainda, muito mais gastos, devido à sua manutenção diária, por muitos e muitos anos. E não estamos aqui considerando os salários internos, cujos tetos aumentam os volumes dos metros quadrados.

Assim considerando os gastos públicos do país, a odisséia do cosmonauta* Marcos Pontes, inclusive por ser produtiva, não tem nada de estratosférica.

*(Os russos chamam de cosmonautas; os americanos, astronautas resquícios da guerra fria.)

Sérgio Antunes de Freitas – Arquiteto – Brasília

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