O alto investimento do governo brasileiro nos colégios militares pode ser uma das explicações para o bom rendimento que as instituições apresentam no exame, refletidas também na ampla aprovação dos estudantes em processos seletivos para universidades em todo o País.

No ano passado, segundo o resultado do Enem, divulgado no início deste mês, o Colégio Militar de Belo Horizonte foi uma das instituições com melhor classificação. A escola ficou no 3º lugar entre as instituições públicas com a melhor nota e em 23º na classificação geral.

No Paraná, o Colégio Militar de Curitiba também está entre os melhores: ficou em terceiro lugar entre as escolas públicas e na décima posição na classificação geral, sem levar em conta o percentual de alunos que realizou a prova. Se considerarmos apenas as escolas que tiveram participação superior a 75% dos estudantes, a escola fica em primeiro lugar entre as públicas.

O investimento na escola por aluno, porém, é cerca de cinco vezes o recurso despendido para manter um aluno nas escolas públicas estaduais do Paraná. Segundo a escola, considerando todos os custos para manter a estrutura, cada estudante custa por mês ao colégio R$ 1.250,00 em média, sendo que as famílias pagam uma colaboração mensal de R$ 130. Já o Governo do Estado, em 2010, gastou cerca de R$ 230 reais para cada aluno.

A reportagem procurou a Secretaria de Estado da Educação para atualizar a informação e comentar a diferença de investimento. O órgão não informou o investimento previsto para este ano por aluno e comentou que está trabalhando com na análise dos dados históricos do Enem.

Segundo a Secretaria, o “desempenho dos estudantes paranaenses precisa melhorar como um todo, inclusive no ensino particular”, e que para isto está organizando uma discussão sobre o assunto que irá envolver toda a sociedade.

O segredo do bom desempenho da instituição no Enem é explicado pelo comandante do colégio, o coronel André Germer. “Eu atribuo o resultado a basicamente três aspectos: a qualificação dos professores e a metodologia de ensino, a estrutura oferecida pela escola e a disciplina dos estudantes.

Disciplina acima de tudo

O outro diferencial da instituição é a disciplina dos estudantes. “O que caracteriza o colégio é o grau de responsabilidade que a gente atribui ao aluno e exige dele”, afirma o coronel André Germer, comandante do colégio. Segundo ele, os estudantes têm obrigações rígidas como o cumprimento dos horários, a assiduidade e disciplina nas aulas. Ele também precisa manter a média mínima, de seis pontos, se quiser continuar frequentando as atividades extraclasse oferecidas pela instituição.

Os alunos são também conscientizados da importância de seus esforços para obter o resultado desejado. Existe entre os alunos um espírito competitivo. “A vida não deixa de ser, de certa forma, uma competição: uma competição pelo melhor emprego, por uma vaga na faculdade e os nossos alunos são conscientes disso”, conclui.

Especialização é trunfo

Segundo o Coronel André Germer, a maioria dos professores da escola realizou ao menos o curso de especialização e alguns têm mestrado ou doutorado. A instituição estimula ainda os profissionais para que realizem constantemente cursos de aperfeiçoamento.

Outra situação também favorece o trabalho. No Colégio Militar, apesar de trabalhar em período integral, os professores ministram aulas apenas no período da manhã. O período da tarde é totalmente dedicado à preparação das aulas, correção de avaliações e um serviço de atendimento aos estudantes para a solução de dúvidas.

Os profissionais trabalham em equipes de acordo com o ano de formação de seus alunos e podem trocar informações com os professores de outras disciplinas sobre cada estudante.

Simulados garantem sucesso

O trabalho interdisciplinar, aliás, é um dos aspectos da metodologia de ensino do colégio destacado pelo comandante. A instituição busca também transmitir aplicações práticas do conhecimento e procura contextualizar as questões. Desta forma, a escola busca preparar o aluno para reflexões que são cobradas geralmente pelo exame.

Os alunos do colégio também realizam outro tipo de treinamento para a prova: o de resistência. De acordo com o comandante, as provas aplicadas pela escola buscam verificar o aprendizado de todo o conteúdo ministrado no bimestre e por isso são longas e com muitas questões. Ao menos quatro vezes por ano os alunos também participam de simulados do Enem.

“Se torna mais trabalhoso, mas o aluno vai se acostumando com isso. É uma preparação de longo prazo para as provas do Enem”, explica o coronel André Germer, comandante do colégio. Segundo ele, com as avaliações o aluno aprende a se manter concentrado em provas longas.

A escola conta ainda com uma estrutura de apoio com psicólogos, assistente social e psicopedagogos. Os alunos também realizam, na instituição, diversas atividades extraclasse com a prática de esportes, clube de xadrez, teatro, música e equitação.