Testemunhas sabiam da chacina na Baixada Fluminense

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Deputado Geraldo Moreira: testemunhas.

Rio – Um grupo de 18 testemunhas informou ontem à tarde ao presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), deputado Geraldo Moreira, que foi avisado, três dias antes, que a chacina da Baixada aconteceria. O grupo, formado por quatro adultos e quatorze adolescentes e crianças entre 4 e 16 anos, presenciou o assassinato de cinco pessoas em Queimados. A secretaria de Segurança do Rio confirmou ontem que onze policiais militares já estão presos por suspeita de envolvimento na chacina em que 30 pessoas foram mortas, quinta-feira. Quatro estão presos com mandado de prisão contra eles e sete estão detidos administrativamente. Segundo o chefe da Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, as prisões foram feitas com base no depoimento de testemunhas e em denúncias anônimas.

Depois da chacina, segundo relato feito ao deputado, eles receberam, por telefone e pessoalmente, avisos para deixar o bairro. Procuraram, então, ajuda da Fundação para a Infância e a Adolescência (FIA) do governo do estado. As testemunhas disseram ao deputado que conseguiriam contribuir para o retrato falado de um dos assassinos, mas não querem prestar depoimento à polícia. Eles têm medo de que se confirme a suspeita de que os criminosos são policiais.

Geraldo Moreira pediu ajuda ao secretário estadual de Segurança, Marcelo Itagiba, e ao Ministério Público. No depoimento, uma das testemunhas contou que um dos assassinos voltou ao local do crime, quarenta minutos depois, com a mesma blusa que vestiu durante a chacina. Segundo o relato, o criminoso teria discutido com o policial que fazia o registro dos crimes.

No bairro da Posse, em Nova Iguaçu, a violência mudou a rotina dos moradores. As pessoas dizem que antes da chacina o movimento era grande na Rua Gama durante a noite. Agora, logo que escurece, a maioria volta para suas casas.

?Está todo mundo com muito medo, as famílias estão muito inseguras?, disse um morador.

No bar onde aconteceu parte da tragédia, uma faixa de protesto continua pendurada, mas as portas não vão reabrir. Nesta segunda, o dono, Carlos Henrique, que perdeu a mulher na chacina, entregou as máquinas de video-game.

?Não pela vizinhança, porque aqui sou muito considerado. Mas o pessoal fica com medo, fica um clima chato?, comenta ele.

No fim da manhã, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, foi até a Rua Gama. Ele estuda a possibilidade de comprar o bar e transformar o local num centro social de apoio à juventude. Lindberg pede que a Força de Segurança Nacional, que está vindo para o Rio de Janeiro, atue na Baixada Fluminense.

Segundo o prefeito, a população está com medo. À noite, as pessoas não saem às ruas e o policiamento é precário. Lindberg disse ainda que se ficar comprovada a participação de policiais militares na chacina, ele vai pedir ao estado indenização para as famílias.

Genoino: ?Autoridade do Estado está em jogo?

São Paulo – O presidente nacional do PT, José Genoino, defendeu ontem o uso da força-tarefa do governo federal nas investigações das chacinas, em Queimados e Nova Iguaçu, que resultaram na morte de 30 pessoas na Baixada Fluminense, na quinta-feira. De acordo com o dirigente petista, a autoridade do Estado brasileiro, principalmente no âmbito estadual, está em jogo na apuração dos assassinatos e há ainda a preocupação com as repercussões que o caso pode trazer no cenário federal.

?O governo federal tem de concretizar imediatamente as iniciativas anunciadas, com o uso de tropas federais, principalmente da força-tarefa, além da Polícia Federal, em uma ação combinada com as forças de segurança estaduais, para uma ação exemplar?, disse Genoino. ?Está em jogo a autoridade do estado brasileiro, no âmbito estadual, principalmente, mas também com repercussões no federal, na função do estado diante da violência do crime organizado?, complementou.

Nesta semana, um grupo de 400 a 600 homens da Força Nacional de Segurança Pública chega ao Rio de Janeiro para ajudar a combater a violência no estado. Segundo Genoino, a participação de integrantes da PM na chacina é uma ?gravidade sem tamanho? e reforça a necessidade de uma reforma no aparelho policial.

?Para o estado de direito no Brasil é fundamental a punição dos culpados. Não podemos conviver com essa situação de desgoverno em que a vida das pessoas vira moeda de troca, vingança, uma banalização na ação de grupos de extermínio?, comentou o presidente do PT. ?A ação tem de ser implacável porque o fato de pessoas responsáveis pela segurança de outras realizarem assassinatos de forma fortuita e gratuita pode significar o fim da confiança da população no aparato de segurança do Estado?, acrescentou.

Indagado sobre o projeto do governo federal que institui a Lei Orgânica da Polícia Federal, numa tentativa de disciplinar e profissionalizar a PF nos moldes do FBI (a força federal dos Estados Unidos), Genoino apoiou a iniciativa. ?Acho que a Polícia Federal tem de ser cada vez mais capacitada técnica e profissionalmente, aumentado seu efetivo para que possa cumprir sua função institucional, principalmente no combate ao crime organizado e ao narcotráfico?, observou.

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