Restrições a Freire ameaçam base de Ciro

Salvador

  – De tão amplo, o palanque do candidato da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT) à Presidência, Ciro Gomes, está a ponto de trincar. Pela chance de vitória depois de subir nas pesquisas, Ciro tem suado para administrar as crises em sua base. E no próprio comando da campanha nasce uma rede de intrigas. A Frente já tem até uma unanimidade contra: o presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE).

Mas não é só. Sexta-feira, por exemplo, Ciro teve que atrasar sua programação em Salvador para conter mais um incêndio. Informado de que seu candidato a vice, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, estava atribuindo ao ex-senador Antonio Carlos Magalhães os rumores de que renunciará, Ciro telefonou-lhe, pedindo que não se precipitasse. Tarde demais. Ciro viu, ao lado de Antonio Carlos, Paulinho afirmar que oligarquias, “forças do mal” recém-aliadas, estariam querendo seu lugar. “Não faz o menor sentido. O PFL não pode entrar formalmente na coligação”, alegou Ciro. “Já neguei isso. Não estou indicando ninguém para a vice”, reagiu Antonio Carlos.

Na mesma sexta-feira, Ciro assistiu à troca de farpas entre Freire e Antonio Carlos. O melindre foi tamanho que Ciro teve que negociar às escondidas com o PFL, até a oficialização de sua candidatura, temendo que seu partido, o PPS, o impedisse de concorrer caso a aliança com os pefelistas fosse exposta antes do tempo. Hoje, Antonio Carlos tem chamado Freire, abertamente, de sabotador da candidatura de Ciro. “Pena que não vou ter o prazer de vê-lo no Senado. Ele desistiu por falta de apetrechos eleitorais. Votos mesmo”, ironiza Antonio Carlos, que zomba dos partidos da Frente que são anticarlistas (PDT e PPS), dizendo que na Bahia eles cabem numa Kombi.

Ciro também estava ao lado de Antonio Carlos quando assistiu à resposta de Freire pela TV. O presidente do PPS disse que estava construindo a candidatura de Ciro nos últimos sete anos enquanto Antonio Carlos apoiava o governo. “Você também estava lá comigo”, respondeu Antonio Carlos, diante de um constrangido Ciro.

Restrições

Os presidentes do PDT, Leonel Brizola, e do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), também não fazem o menor esforço para esconder suas restrições a Freire. Tanto é que uma das condições para a saída de Martinez do comando da campanha foi a de que ela nunca fosse ocupada por Freire. Brizola disse que as declarações do senador são infelizes e inoportunas. Mas esse não é seu único desafeto na frente. Ele também detesta o ex-governador do Rio Grande do Sul Antônio Britto, candidato pelo PPS a voltar ao cargo.

“Ele é representante das forças do conservadorismo. Seu governo foi prova disso”, declarou o ex-governador e presidente nacional do PDT. “Britto apoiava Fernando Henrique até ontem. Era do PMDB colaboracionista.”

Oligarquias atrapalham candidato

Brasília

(AG) – Ciro Gomes está pagando o preço pela opção de se ligar a velhas oligarquias da política. Para consolidar uma base, teve que sacrificar quadros do próprio PPS. Em Santa Catarina, onde tem o apoio do presidente do PFL, Jorge Bornhausen, e flerta com o governador Esperidião Amin (PPB), o candidato do PPS ao governo, Sérgio Grando, tem 5% das intenções de voto. Semana retrasada, quando Ciro visitou o estado e teve Bornhausen em seu palanque, Grando sequer discursou. No Paraná, Ciro tem de fugir de uma briga entre o candidato do PPS, Rubens Bueno, e o do PDT, senador Álvaro Dias.

Antes de pisar no Maranhão, há duas semanas, também teve de driblar uma crise entre seus aliados oficiais e os neociristas da família Sarney. “Os Sarney só querem comprar bilhete premiado”, esbravejava o candidato do PDT ao Senado, Epitácio Cafeteira. Não são raras as vezes em que Ciro tem que se justificar pela amplitude das coligações.

“Estou fazendo, coerentemente, o que é necessário, em nome da governabilidade”, alega.

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