Reforma provocou o naufrágio

Rio – A polícia interditou ontem um galpão que funcionava, sem autorização, como estaleiro, no qual foi realizada a última reforma da escuna Tona Galea, que durou quatro meses e terminou em dezembro. A embarcação adernou no sábado em Cabo Frio, na região dos Lagos, matando 12 pessoas e deixando três desaparecidas. As buscas pelos desaparecidos foram suspensas no fim da tarde de ontem e serão reiniciadas hoje pela manhã.

O proprietário do galpão, o marítimo Walder Gusmão Ataíde, de 52 anos, que passa a ser investigado no inquérito que apura as causas do acidente, foi conduzido à 126.ª Delegacia Policial para esclarecimentos. Ele disse que cedeu o espaço para a realização da reforma a pedido de Norberto Guimarães da Silveira, de 73 anos, proprietário e condutor da embarcação. “Ele pediu para fazer a reforma ali, pagava a luz e guardava o material no galpão”, disse.

Ataíde afirmou, ainda, que o carpinteiro responsável se chama Marcelo e tem o apelido de “Amigo”. O imóvel interditado fica em frente ao Boulevard Canal, de onde partem os passeios turísticos, na mesma rua em que está localizada a agência da Capitania dos Portos.

Choque

Ontem, o delegado titular de Cabo Frio, José Omena, falou por telefone, pela primeira vez desde o acidente, com o advogado de Norberto, que o procurou e se identificou apenas como Nonato. “Ele disse que Norberto está sob tratamento, em estado de choque e será apresentado assim que tiver condições de prestar depoimento”, contou o policial. O comandante estaria internado, em estado de choque, em um hospital do Rio.

Omena afirmou que é preciso ter “tolerância razoável” nesse caso. “O Norberto é um homem de 73 anos, que não tem histórico de acidentes e o prazo é curto para se restabelecer do que houve”, disse, referindo-se ao naufrágio.

O delegado apreendeu para perícia um outro barco que está em nome de Ataíde, mas já foi vendido. A escuna Vingador, também usada em passeios turísticos, é semelhante ao Tona Galea e passou por reformas no mesmo local. O comprador da embarcação é Gimis Videiro, de 47 anos, que negou que os barcos tenham fundo chato. “Nenhum barco turístico do canal tem fundo chato, já teve. A reforma foi para transformar a embarcação no que a Capitania dos Portos classifica como escuna”, afirmou.

Interdição

O delegado Omena disse que o objetivo é impedir que reformas como essas voltem a ser feitas. “Pode ter sido feito da forma correta, mas pode ter sido feito de qualquer jeito e ter falhas”, afirmou. Ele solicitou à Capitania dos Portos informações sobre o trâmite legal para reforma e construção de barcos. Ataíde, que está construindo uma escuna para si próprio no mesmo local da reforma do Tona Galea, disse estar seguindo um projeto elaborado por um profissional.

Mais acidentes com barcos

Rio

– Depois que a escuna Tona Galea adernou em Cabo Frio, na Região dos Lagos, e uma traineira naufragou na Baía de Ilha Grande, litoral sul fluminense, no sábado, mais três acidentes foram registrados ontem com embarcações no litoral fluminense. Uma lancha virou e outros dois barcos ficaram à deriva, com o motor parado. Segundo o comandante das Unidades Especializadas dos Bombeiros, coronel Marcos Silva, isso é “comum” e, na maioria das vezes, as pessoas ficam “ilhadas” em mar aberto por imperícia. “A manutenção dos barcos é coisa séria, senão vai à pique, naufraga.”

Por volta de 10h, os bombeiros resgataram Kinout Alves, de 72 anos, depois que sua lancha virou, no quebra-mar do Canal de Marapendi, na Barra da Tijuca. “Ele não se machucou, mas ficou muito assustado com a queda”, disse o bombeiro Ângelo Borges Lacerda, que participou do salvamento do dono da lancha. Segundo Lacerda, Alves contou que foi surpreendido por uma forte onda, o que provocou o tombamento do barco, quando seguia para alto-mar.

Pane

No início da tarde, a lancha Suhel foi resgatada próximo à praia do Leme. Segundo o coronel Marcos Silva, o proprietário da embarcação foi identificado apenas como Ivo. Com ele, estavam um homem e uma mulher. A causa do incidente foi pane no motor. Todos passam bem.

Um problema mecânico também deixou à deriva a traineira Arca de Noé, com seus três tripulantes. Silva contou que o dono do barco, Jorge Francisco Coelho, 43, teve que nadar três horas até chegar à praia da Restinga de Marambaia, para pedir ajuda. O Grupamento Marítimo usou um helicóptero para tirar do barco Francisco Paulo Silva, 45, e Maurício Barreto, 41.

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