Propostas de Lula agradam os militares

Rio – O candidato a presidente da República pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, fez ontem sua mais ostensiva aproximação com o setor militar, ao proferir palestra promovida pela Fundação de Altos Estudos Estratégicos, no Hotel Glória, no Rio de Janeiro. A fundação é presidida pelo general Leônidas Pires Gonçalves, um ex-ministro do Exército, no governo José Sarney. Lula falou quase duas horas para uma platéia de 100 militares e embaixadores. Na platéia, destacava-se o ex-vice-presidente Aureliano Chaves.

As declarações de Lula foram aplaudidas por diversas vezes pelos militares. Lula recebeu aplausos ao afirmar que o Brasil só será forte quando tiver força econômica, tecnologia e poder militar e também quando questionou a adesão do Brasil ao acordo de não-proliferação de armas nucleares. “Vou ser muito franco. No Congresso há muitos pacifistas, mas como cidadão brasileiro, penso que quando outros países nos propõem a adesão a esse acordo, eles não abrem mão das armas que já têm. Ficamos de estilingue e eles de canhão. Hoje os Estados Unidos têm hegemonia econômica, tecnológica e militar. Por isso temos de engolir discursos de Bush”, afirmou, refererindo-se ao presidente do Estados Unidos, George Bush, que está ameaçando atacar o Iraque.

Lula também agradou a platéia ao dizer que é preciso que o país aumente sua auto-estima nas negociações com o exterior. “Nos tratam como se fôssemos uma republiqueta de bananas”, criticou. O candidato petista falou sobre a necessidade de o Brasil mudar a sua política de diplomacia. Sem citar nomes, ele relembrou o episódio ocorrido com o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, que foi obrigado a tirar os sapatos para ser revistado em um aeroporto em Miami, logo depois dos atentados terroristas do dia 11 de setembro. “Se você tem um ministro do Exterior que tem que tirar os sapatos três vezes… Não tenho imunidade, mas não tiraria”, afirmou, sendo muito aplaudido. Lula disse que a política diplomática vai ser mudada em um eventual governo do PT.

Lula começou sua exposição lembrando que tem sido criticado por um adversário por ter elogiado a capacidade de planejamento dos governos militares. Ele citou entre os governos que tiveram essa mesma visão de planejamento os de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, mas que o Brasil ao longo de sua história vem cometendo muito erros. Segundo Lula, o Brasil não foi capaz, por exemplo, de distribuir renda depois da década 70. Disse ainda que José Sarney errou ao não fazer os ajustes no plano Cruzado no tempo certo, assim como Fernando Henrique priorizou a reeleição em vez da retomada do crescimento.

Segundo Lula, “nenhum país planejado incorreria em erros desse nível. O mandato de um presidente é muito curto. E é preciso dar seqüência no governo seguinte. As autoridades que governam o país não conhecem o Brasil. O presidente que mais viajou pelo Brasil foi Juscelino. O presidente pode estar governando o Brasil pensando que está governando a França”. Esta última declaração foi uma alusão indireta a Fernando Henrique. Lula acrescentou que em algumas regiões do país ainda não conheceram nem a primeira Revolução Industrial. “Fico feliz quando um presidente viaja o mundo todo, mas triste quando ele não viaja para conhecer o próprio país”, disse, em outra provocação a Fernando Henrique.

Lula reverá acordo da Base de Alcântara

Rio

– Luiz Inácio Lula da Silva também disse ontem aos militares, no Rio de Janeiro, que reverá o acordo do Brasil com os EUA para o uso da base de foguetes de Alcântara (MA). O Brasil está negociando a cessão de uma base para os Estados Unidos. Segundo o petista, o acordo, que tramita no Senado, é “leonino” para o País, por restringir a ação dos brasileiros. Lula várias vezes arrancou aplausos, como quando elogiou a capacidade de planejamento do regime militar (1964-1985).

“Do jeito que está feito esse acordo de Alcântara, é capaz de o presidente Fernando Henrique Cardoso ir lá fazer uma visita, e os americanos não o deixarem entrar”, afirmou, em referência às cláusulas que limitam o acesso dos brasileiros e impedem transferência de tecnologia aeroespacial ao País. “Parceria pressupõe igualdade, não submissão. O Brasil não pode permitir ser tratado como um país insignificante.” Ele afirmou que, se for eleito, o acordo será rediscutido para restabelecer o substitutivo do deputado Waldir Pires (PT-BA) que tirava do texto pontos considerados lesivos ao Brasil.

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