Polícia Federal volta a intimar presidente da Caixa

A Polícia Federal intimou ontem, pela segunda vez, o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, a prestar depoimento no inquérito que apura a quebra ilegal de sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Na primeira convocação, na quinta-feira, Mattoso deixou de comparecer por entender que a colaboração da diretoria e as informações dadas pela Consultoria Jurídica da CEF seriam suficientes.

A PF, porém, entende que há muitos pontos nebulosos nas explicações da CEF e insiste na presença do dirigente. Caso ele não compareça, a lei prevê que Mattoso pode ser levado sob coação policial, segundo informou a assessoria da PF. Mas isso não será necessário porque, como garantiu a assessoria da Caixa, Mattoso comparecerá no horário marcado, a partir das 10h de amanhã e prestará todos os esclarecimentos. A assessoria reafirmou também a disposição da Caixa de colaborar com as investigações.

O delegado Rodrigo Carneiro Gomes, encarregado do inquérito, requisitou ontem as fitas do circuito interno da CEF e o registro de entradas e saídas de pessoas no prédio sede da instituição, onde Mattoso despacha. O objetivo é detectar quem esteve no prédio no último dia 16, data em que foi acessada a conta de poupança do caseiro e retirados seus extratos a partir de um laptop usado por um dirigente do alto escalão.

Laptop

Localizado em São Paulo, depois de ser retirado inexplicavelmente da sede da CEF, o laptop foi lacrado na presença da PF e trazido na sexta-feira à noite para ser periciado no Instituto Nacional de Criminalística (INC). A perícia, que começa amanhã, vai verificar se as informações dadas pela Caixa batem com os dados do computador. Os peritos da PF também vão verificar se houve adulteração da máquina ou tentativa de apagar operações feitas desde a retirada dos extratos do caseiro, na noite de 16 de março, até a entrega do equipamento, na sexta-feira à noite.

Há dois servidores, cujos nomes são mantidos em sigilo, suspeitos de serem os executores da violação do sigilo do caseiro. A PF quer ouvi-los para saber a mando de quem eles agiram, dentro e fora da Caixa. Por meio da assessoria, o delegado Carneiro informou que não vê razões, por enquanto, para intimar o jornalista Marcelo Neto, assessor do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, suspeito de ter encomendado a quebra do sigilo do caseiro junto a um dirigente da Caixa, cujo nome também já é conhecido da polícia mas também mantido em sigilo.

A PF mostrou-se insatisfeita na semana passada com a colaboração da Caixa no esclarecimento do episódio. Francenildo, em entrevista, acusou Palocci de freqüentar uma mansão alugada em Brasília por lobistas de Ribeirão Preto. Depois disso, o caseiro teve o sigilo bancário quebrado ilegalmente na Caixa e passou a sofrer uma devassa de órgãos fiscais do governo, vinculados em última instância a Palocci, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

O delegado Carneiro avisou que não vai aceitar manobras para proteger eventuais dirigentes da CEF envolvidos na quebra ilegal do sigilo do caseiro. "A polícia não compactua com a tentativa de transferir responsabilidades exclusivamente a pessoas de menor importância na cadeia de comando", alertou. Um dos episódios que mais irritaram os policiais foi a estranha retirada do laptop, principal prova do crime, da sede da Caixa.

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