Pega fogo briga por poder e Lula atua de bombeiro

Brasília – Os principais integrantes do governo Lula procuraram desmentir ontem a existência de uma crise interna, por conta da disputa de poder entre os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política). Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva emitir nota negando eventual reforma do Ministério, os ministros deram declaração de que tudo está bem.

Na realidade, as coisas não estão bem. O ministro José Dirceu perdeu a condição de articulador político depois do caso Waldomiro e o governo convocou o deputado Aldo Rebelo, para não ficar sem negociador com o Congresso Nacional. Agora, passado o pior da crise gerada pelo caso Waldomiro, o PT e Dirceu querem seu espaço de volta. Rebelo (do PCdoB) passou a exercer muito poder. A solução seria deslocá-lo para o Ministério da Defesa, no lugar de José Viegas, que não agrada nem o governo, nem os militares.

Lula declarou que não pretende demitir Viegas, mas o clima está quente. O ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, creditou as notícias “à pauta da oposição”. “Não vamos fazer o jogo em setores da oposição”, disse Campos. O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, lembrou que tanto José Dirceu quanto Aldo Rebelo trabalham há muito pelo projeto de poder de Lula.

O líder do PT na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia, disse que o assunto não foi debatido na bancada. “A bancada do PT nunca discutiu sobre o ministério de Lula. Mas a realidade é que Dirceu quer de volta pelo menos uma boa parte do poder que tinha antes do escândalo Waldomiro e apesar de Lula estar satisfeito com o desempenho de Aldo Rebelo na articulação política, estaria inclinado a atender o chefe da Casa Civil, que teve papel decisivo em sua eleição.”

A demissão de Viegas seria a solução perfeita. Primeiro porque Viegas está desgastado junto aos comandantes militares por causa do que eles consideram má condução nas negociações por reajustes salariais e depois, dentro do governo, o desgaste seria por conta de supostos deslizes éticos. Entregando a Defesa a Rebelo, o presidente daria um forte ministério ao PCdoB e por outro lado deixaria a articulação política livre para Dirceu. Uma das razões que levaram o presidente a desmentir qualquer intenção de mexer no ministério é que sua prioridade, agora, é a aprovação do salário mínimo de R$ 260. Aldo Rebelo já mostrou serviço na Câmara. Mas, falta o Senado. O que Lula menos deseja, agora, é aumentar a divisão no governo numa hora fundamental. Por esta razão, tratou de dizer que não planeja nenhuma reforma ministerial.

Aldo aposta tudo no salário mínimo

Brasília

– O ministro Aldo Rebelo avalia que, se conseguir que o Senado aprove a medida provisória do salário mínimo de R$ 260, vencerá a pressão do PT para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o desloque para o lugar de José Viegas (Defesa) e devolva a articulação política a José Dirceu (Casa Civil). A votação do mínimo deve ocorrer na semana que vem. A aliados, Aldo mostra disposição de comprar briga com Dirceu, com quem tem se desentendido nos bastidores. Crê que uma vitória no Senado impediria o PT de tirá-lo da operação política.

A interlocutores, o ministro, que é do pequeno PC do B, lembra que agiu corretamente com Dirceu. Exemplo: ao assumir no final de janeiro a Coordenação Política, pasta que absorveu uma estrutura que antes estava na Casa Civil, não demitiu ninguém ligado ao ministro. Nem pessoal ligado ao ex-subchefe de Assuntos Parlamentares Waldomiro Diniz, pivô da maior crise da gestão Lula.

Aliados de Aldo no Congresso dizem que o PT e Dirceu não se conformam de ter perdido o controle de um esquema de poder fundamental para o partido, o de liberação de emendas parlamentares e indicação de cargos. Ao mesmo tempo, dizem os defensores do ministro da Coordenação Política, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), tem interesse em miná-lo porque Aldo não apoiou a emenda que permitiria a reeleição dele e de Sarney para seus postos no Congresso. Aldo trabalhou contra a emenda. Dirceu a apoiou.

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