Na CPI, controladores culpam o equipamento

Brasília – Três dias depois de o Ministério Público Federal ter pedido o seu indiciamento por crime doloso, o sargento Jomarcelo Fernandes dos Santos se eximiu ontem de qualquer responsabilidade pela queda do Boeing da Gol, no dia 29 de setembro, quando morreram 154 pessoas, e responsabilizou falhas no sistema de controle do espaço aéreo brasileiro pelo acidente. Santos e dois outros controladores de vôo, que foram denunciados pelo MP por crime culposo, fizeram ontem sua primeira defesa pública em depoimento à CPI do Apagão Aéreo do Senado. Os três, que apontaram falhas no sistema como causa do acidente, não convenceram o relator da CPI do Apagão Aéreo do Senado, senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Ele responsabilizou os operadores de vôo pela queda do avião da Gol, além dos pilotos do jato Legacy. ?Parece que o sistema tem falhas. Nesse caso, embora o sistema seja falho, a causa do acidente foi falha humana?, entendeu Demóstenes.

 Assim como o MP, o relator considerou o sargento Santos, do Cindacta 1, em Brasília, o principal culpado pelo acidente. Para Demóstenes, no entanto, Santos deve ser enquadrado em crime culposo. ?Não tenho dúvidas de que Jomarcelo cometeu a falha mais grave. Ficou bem evidente que, como técnico, ele falhou. Ele teve uma falha decisiva. Acho que ele foi negligente, imprudente e cometeu imperícia. Mas ele não tinha a intenção de provocar o acidente?, afirmou o relator. Para ele, os dois pilotos do jato Legacy – Joe Lepore e Jan Paladino – também ?contribuíram decisivamente para o acidente?.

No depoimento de uma hora, Santos foi lacônico: respondeu a maior parte das perguntas como ?afirmativo? ou ?negativo?. Admitiu que fala mal inglês e que não determinou que o jato Legacy baixasse para 36 mil pés depois de sua passagem por Brasília, conforme previa o plano de vôo. Também reconheceu que confirmou a informação que aparecia nos instrumentos do Cindacta, de que o jato estava a 36 mil pés de altura, para seus substitutos – os sargentos Lucivando Tibúrcio de Alencar e Leandro José dos Santos Barros, ambos denunciados por crime culposo.

O Legacy estava, na realidade, a 37 mil pés desde São José dos Campos (SP). ?A informação que eu tinha é que a partir de Brasília o jato estava a 36 mil pés. Eu confiei no sistema?, argumentou Santos. ?A única informação que tinha era que a aeronave estava na altitude correta. E em cima da informação da altitude correta não tinha por que adotar outra medida de emergência?, observou Alencar, ao explicar os motivos pelos quais não pediu ajuda ao centro de controle de Manaus depois de tentar várias vezes contato com o Legacy e não conseguir. Os depoimentos dos controladores foram feitos em uma sessão vazia da CPI, com a presença apenas do relator e do presidente da comissão, senador Tião Vianna (PT-AC).

Juiz recebe denúncia contra pilotos do Legacy

Cuiabá (AE) – O juiz federal Murilo Mendes, titular da Subseção Judiciária de Sinop (MT), recebeu ontem a denúncia oferecida na sexta-feira pelo Ministério Público Federal (MPF), que culpou quatro controladores de vôo e os pilotos americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino pelo maior acidente da história da aviação no País, ocorrido em 29 de setembro do ano passado.

A assessoria do juiz informou que ele começa a analisar a denúncia a partir de amanhã, e deverá se manifestar em duas semanas. Ao todo, são mais de 3 mil páginas em documentos enviados pelo MPF.

A denúncia atribui aos pilotos e aos controladores de vôo, Jomarcelo Fernandes dos Santos, Lucivando Tibúrcio de Alencar, Leandro José dos Santos de Barros e Filipe Santos dos Reis, a culpa pela morte de 154 pessoas com a queda do Boeing 737-800 da Gol, após se chocar com o jato Legacy executivo da Embarer, no norte do Mato Grosso.

Segundo o MPF, eles teriam praticado crime de atentado contra segurança de vôo, além de agirem com negligência e irresponsabilidade, sustenta o procurador Thiago Lemos de Andrade.

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