Marcha acaba em conflito e deixa 50 feridos

Beto Barata / AE

Policiais militares e integrantes do
MST se enfrentaram em frente ao
prédio do Congresso Nacional.

Brasília – A Marcha Nacional pela Reforma Agrária terminou em conflito, ontem, no início da noite, entre sem terra e policiais militares na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Segundo a Polícia Militar do Distrito Federal, 18 policiais ficaram feridos no confronto, três dos quais foram levados para hospitais. A coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) informou que até as 19 horas haviam sido socorridos 32 sem terra, a maioria com ferimentos leves. Um sem terra, porém, estava com suspeita de traumatismo craniano. O policial identificado como cabo Roriz levou uma paulada no rosto e teve o nariz quebrado.

O enfrentamento começou assim que os 12 mil militantes começaram a ocupar a praça diante do Congresso. Uma viatura da PM tentou passar entre os sem terra e teria sido atacada. Os policiais reagiram, estando em pequeno número. A cavalaria, postada a 50 metros, foi de encontro à multidão. A Esplanada virou uma praça de guerra. Pouco depois, um helicóptero da PM deu rasantes sobre a multidão, aumentando ainda mais a confusão. Policiais brandiam os cassetetes e os sem terra reagiam com paus, pedras e mastros de bandeiras. Novo contingente da PM chegou em viaturas do Batalhão de Operações Especiais. A Tropa de Choque também se deslocou para o local. Sem terra e policiais continuavam se enfrentando, apesar dos pedidos de calma dos coordenadores. Foi necessária a intervenção do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) para serenar os ânimos. Acompanhados de deputados petistas, ele negociou com os comandantes o afastamento da tropa. Os sem terra fizeram cordão de isolamento para conter a multidão.

À tarde, antes do confronto na Esplanada, houve praticamente um ensaio de enfrentamento diante do Palácio do Planalto. O presidente Lula estava no palácio. Os sem terra que puxavam a marcha com mais de 12 mil militantes contornavam a Praça dos Três Poderes e foram barrados pelos policiais. Forçaram a passagem aos empurrões e um policial caiu sentado. Os PMs se reorganizaram e tentaram formar barreira na rampa do palácio, mas os sem terra avançaram. Houve empurrões, tumulto e correria. Policiais armaram-se com os cassetetes. Mas os sem terra se valeram dos mastros das bandeiras para abrir passagem. No empurra-empurra ninguém saiu ferido, mas os ânimos já ficaram alterados. ?Polícia mal preparada, vão (sic) prender bandidos?, reagiu a militante, locutora do carro de som. Antes dos incidentes, a marcha havia se dirigido à Embaixada dos EUA para protesto contra o ?imperialismo americano?.

Os manifestantes depositaram duas toneladas de lixo na frente da embaixada. Em seguida queimaram a bandeira americana e um boneco do Tio Sam com cifrões nos olhos.

Lula recebe em palácio representantes do MST

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem, no Palácio do Planalto, 49 representantes da Marcha Nacional pela Reforma Agrária. Os sem terra entregaram ao presidente uma pauta com 16 reivindicações, entre as quais, a cobrança do cumprimento da meta de assentamento do Plano Nacional de Reforma Agrária, a reestruturação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e mudanças no cálculo de produtividade da terra. O presidente da Comissão Pastoral da Terra, dom Tomás Balduíno, que também participou da audiência, disse, ao chegar ao Palácio do Planalto, que o encontro do MST com o presidente Lula seria ?importante e produtivo?, por ser ?a hora da cobrança?.

Ele criticou o atual modelo econômico e o atraso na implantação do plano de reforma agrária. ?O MST quer terra e mudanças. Não foi para isso que Lula foi eleito? Então é hora da cobrança. Está havendo um continuísmo enorme do que assistimos, estarrecidos, no governo passado. Está na hora de fazer mudanças?, afirmou Balduíno.

?A minha descrença (no governo Lula) é positiva, pois é uma forma de alertar o presidente para os compromissos que assumiu com a sociedade?, afirmou. ?Ele (Lula) foi eleito para fazer mudanças, e nosso grande obstáculo, neste momento, continua sendo o latifúndio?. O líder do MST João Paulo Rodrigues disse que o MST ouviu mais do que falou durante o encontro com Lula, que não constava oficialmente da agenda de ontem do presidente. ?Ele (Lula) sabe muito bem dos números da reforma agrária e dos nossos pedidos?, ressaltou Rodrigues.

Voltar ao topo