Mães-de-santo protestam

Salvador – Um grupo de 50 mães, pais e filhos-de-santo representando 40 terreiros de candomblé da capital baiana protestou ontem à tarde, em Salvador, contra a morosidade da Justiça. Eles reclamaram do atraso no julgamento do recurso à sentença de janeiro do ano passado que condenou a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) a pagar uma indenização de R$ 1 milhão 372 mil à família da ialorixá Gildásia dos Santos, a mãe Gilda, que morreu de enfarte em 2000 após uma série de agressões e ofensas dos evangélicos. Com faixas exigindo respeito ao culto afro, denunciando que a intolerância religiosa é crime tão grave como o racismo e condenando o atraso da Justiça que estimularia os atos de agressão, os adeptos do candomblé se concentraram em frente ao prédio do Tribunal de Justiça da Bahia. Enquanto isso, uma comissão de 12 representantes, presidida pela filha de mãe Gilda, a mãe-de-santo Jaciara Ribeiro dos Santos, tentava ser recebida pelo desembargador Juarez Santana, relator da apelação da Igreja Universal, que analisa a matéria há dez meses.

O burburinho provocado pelas sacerdotisas do candomblé, vestidas a rigor com suas roupas típicas bordadas, colares e demais adereços, chamou a atenção dos funcionários e pessoas que circulavam no local. ?Nossa intenção era acampar em frente ao prédio até sermos recebidos pelo desembargador?, disse mãe Jaciara. Ela lembra com detalhes tudo o que ocorreu com a mãe.

A Igreja Universal do Reino de Deus ?pirateou? uma foto de mãe Gilda publicada na revista Veja em 1992 e a republicou na Folha Universal, jornal da seita, com uma tarja preta nos olhos e a legenda ?Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes?. A ialorixá começou a passar mal a partir da publicação. A situação se agravou devido a ameaças por telefone e à invasão, por dois evangélicos, do terreiro de mãe Gilda, o Ilê Axé Abassá de Ogum. Ela decidiu processar os agressores, mas morreu no dia 21 de janeiro de 2000, data transformada no Dia da Intolerância Religiosa pela Câmara Municipal de Salvador.

A família deu seqüência ao processo, que resultou na sentença histórica do ano passado condenando a Igreja Universal. Desde então os pastores diminuíram as agressões ao culto afro nos seus programas de rádio e televisão em Salvador. ?Esse povo (evangélicos) ainda anda rondando o terreiro e por essa razão é preciso que a Justiça dê uma resposta contra a intolerância?, disse mãe Jaciara, informando que o dinheiro da indenização será usado pelo culto afro baiano para comemorar essa vitória. ?Como são mercenários, eles (os dirigentes da Igreja Universal) só entendem quando se mexe no bolso deles?, ironizou a mãe-de-santo que integra a comissão. Por volta das 15 horas os representantes do candomblé foram recebidos pelo desembargador Santana, que prometeu dar um ?despacho? antes de junho. Ao ouvir a explicação, as mães e pais-de-santo saíram do prédio comemorando, cantando músicas iorubás.

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