Lula segura ministério para não atropelar FHC

Brasília

– Apesar dos mercados financeiros nacional e internacional aguardarem com expectativa os nomes do ministério do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, principalmente a equipe econômica, o anúncio vai demorar o mais que puder. Esta é a disposição de Lula. E tem uma explicação simples: o novo governo não quer dupla autoridade no País, um governo paralelo, que poderia colocar em choque as equipes atual e futura.

O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, manteve um encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso ontem, em Brasília, e, em seguida, anunciou o nome do coordenador da equipe de transição. Será o assessor político e prefeito licenciado de Ribeirão Preto Antônio Palocci. Da parte do atual governo, o coordenador será o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente. Será uma equipe técnica que vai conhecer o governo.

Lula decidiu adiar ao máximo o anúncio dos nomes que integrarão seu ministério. Não há uma data marcada para que os nomes venham a público, mas, o quanto mais os futuros ministros forem preservados, melhor. “Vamos segurar o quanto a gente puder”, disse um dos integrantes do núcleo político mais próximo a Lula, com o compromisso de não ter o seu nome divulgado. A outra decisão do comando petista é que todos os nomes da equipe serão divulgados todos de uma vez só. Em princípio, Lula tentará evitar o anúncio em pílulas, ou a nomeação da equipe econômica antes dos demais ocupantes dos cargos de primeiro escalão.

Há várias razões para o presidente eleito contrariar o mercado financeiro e adiar o anúncio de sua equipe de governo. O motivo oficial é evitar que haja um duplo comando, principalmente na economia. Se houver um presidente do Banco Central nomeado e outro em exercício, tudo o que for dito e feito por um servirá de pretexto para a imprensa questionar o outro e tentar estabelecer contradições.

Há outras razões, porém. Os nomes para a área econômica devem ser mais ao gosto do mercado, mas sinalizarão austeridade e risco de frustração das esperanças depositadas por 52 milhões de eleitores. Já os da área social devem ser mais palatáveis ao público e, assim, devem ajudar a aceitação dos colegas econômicos. Daí a idéia de um anúncio único.

Além disso, nomear uns antes de outros pode ser interpretado como se aqueles sejam mais importantes do que esses. Mas para conseguir concretizar esse plano, Lula precisa ganhar tempo para escolher todos os ministros, fazer as sondagens necessárias, convidá-los e ter ao menos uma conversa pessoal com o escolhido antes do anúncio oficial.

Por aí se vê como será difícil para Lula e sua equipe manter o sigilo e seguir o plano de fazer o anúncio o mais tarde possível e de uma vez só. O mercado financeiro vai pressionar pelo anúncio do nome do presidente do BC fazendo o dólar subir, os partidos aliados começarão a fazer indicações de ministros.

A de ontem serve de combustível para especulações. A simetria das equipes que participaram do encontro entre Lula e FHC sugeriria que o presidente do PT, José Dirceu, ocupará o cargo de Pedro Parente (Casa Civil), que Luiz Gushiken substituirá Euclydes Scalco na Secretaria Geral da Presidência, e que Antonio Palocci sucederá Pedro Malan no Ministério da Fazenda.

Delfim diz que Lula está certo

São Paulo

– O economista e deputado federal Delfim Netto, que foi poderoso ministro da economia durante a ditadura militar, disse que Lula “está certo” ao não nomear com antecipação os membros de sua equipe econômica. “Se o Lula indicasse as pessoas hoje, teríamos, durante 60 dias, dois presidentes do Banco Central, dois ministros da Fazenda. Seria um prato cheio para a imprensa”, diz. Para ele, se isso acontecesse, haveria muitas manchetes do tipo “ministro contraria Malan” ou “Malan contraria desejos do novo ministro”. “Em breve, terminaria em pancadaria”, diz Delfim. “Imagina que delícia para o tal mercado: dois presidentes do Banco Central fazendo queda-de-braço. Um diz: ?Sobe os juros?. Outro: ?Não senhor, baixa os juros?. O mercado ganharia quando sobe e quando desce.”, afirma Delfim, sobre a exigência, por parte de operadores de mercado, de que a equipe seja anunciada logo.

“O Lula, na minha opinião, está muito certo. Essa é uma equipe técnica, que vai ter as senhas dos computadores. Quando chegar o momento adequado, os partidos vão acabar escolhendo os titulares políticos”, diz Delfim. Sobre a nomeação de Palocci, Delfim diz que “já esperava isso”.

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