Lula quer menos dependência dos EUA

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, ontem, a importância de se afrouxar os laços com seus dois principais parceiros comerciais – União Européia e os Estados Unidos -, à medida que se estreita e fortalece a integração do país com a América do Sul. O presidente deixou claro que não quer "brigar", mas, sim, buscar independência.

"Nós queremos negociar com mais autonomia. Nós queremos negociar defendendo os interesses soberanos do Brasil", disse Lula em seu programa quinzenal de rádio, Café com o presidente. Segundo ele, ao mesmo tempo em que o governo tem trabalhado para fazer com que a economia cresça e gere mais empregos, o Brasil trabalha para gerar oportunidades a outros países da América do Sul.

"Porque aí nós vamos ter uma relação comercial muito mais forte e vamos depender menos dos dois blocos dominantes hoje no mundo, que são a União Européia e os Estados Unidos", afirmou. Lula afirmou que o Brasil não abrirá mão de cumprir o seu papel no processo de integração da América do Sul. O presidente disse considerar o atual momento como promissor, principalmente diante da criação da Comunidade Sul-americana de Nações.

"Como maior economia, com a maior população, como país de maior potencial científico e tecnológico, nós temos obrigação de dar condições para que esse crescimento não se dê apenas dentro do Brasil, mas para que ele se dê também nos países, sobretudo os que fazem fronteira conosco", disse Lula no programa Café com o Presidente.

Ele lembrou a necessidade de ampliar o desenvolvimento dos países sul-americanos como forma de combater o narcotráfico e o crime organizado. No final de março, em viagem oficial a Ciudad Guayana, na Venezuela, Lula propôs um trabalho conjunto entre Brasil, Colômbia e Venezuela e afirmou que a questão do narcotráfico e do terrorismo "é de todos". As vitórias da política externa brasileira na Organização Mundial do Comércio (OMC) também foram comentadas no programa.

"Ganhamos a ação da cana-de-açúcar com a União Européia. Ganhamos a ação do algodão com os Estados Unidos. E ganhamos a ação do frango salgado com a União Européia, que não considerava frango salgado, carne", acrescentou. Na semana passada, a OMC confirmou a decisão do Órgão de Apelação que sugere à União Européia a redução das exportações subsidiadas ao limite de 1.273.500 toneladas de açúcar por ano.

O pronunciamento do presidente Lula foi feito justamente quando o presidente da Argentina, Nestor Kirchner, se queixa da desenvoltura brasileira nos organismos internacionais, sem deixar espaço para outra nações. O presidente argentino deseja reunir diplomatas mais experientes de seu país (incluindo aqueles que lhes fazem oposição) para desenhar uma estratégia de oposição ao que considera uma espécie de hegemonia brasileira. 

Kirchner não suporta mais Lula

Rio – Com dois dias disponíveis em Washington, o chanceler argentino, Rafael Bielsa, convocou neste fim de semana seis embaixadores peronistas de longa experiência diplomática para discutir a agenda externa, em particular, um endurecimento em relação ao Brasil. "Kirchner está cansado dos entraves econômicos brasileiros, a falta de apoio do governo brasileiro à Argentina junto ao FMI e também da liderança que o presidente Lula quer na região", disse ao jornal Clarín.

Segundo o jornal argentino, a gota d’água que fez transbordar o sentimento antibrasileiro foi a iniciativa do Itamaraty de mediar a crise equatoriana através da Confederação Sul-Americana de Nações, apesar de este ser, segundo o governo de Kirchner, um trabalho que diz respeito à Organização dos Estados Americanos (OEA).

Kirchner nunca teve uma boa relação pessoal com Lula e acredita que o Brasil está tentando ocupar todos os cargos disponíveis nos organismos internacionais. "Se há um lugar na OMC, o Brasil quer; se há um lugar na ONU, o Brasil quer; se há um lugar na FAO, o Brasil quer. O Brasil quis até mesmo eleger um papa", teria dito Kirchner.

Voltar ao topo