Lula fala com a oposição para superar crise política

Arquivo / O Estado

Bastos: enviado por Lula para
jantar com ACM e falar com
José Serra, para sair da crise.

Brasília – Um novo grupo de conselheiros e articuladores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está emergindo da maior crise política que o governo petista enfrenta nesses dois anos e meio de gestão. As mudanças não se restringem às pessoas, mas também à orientação política. O presidente Lula quer dar adeus ao clima de guerra que marcou suas relações com a oposição. E busca o entendimento com o grupo em torno de propostas que sejam de interesse do país.

A nova linha já está em curso. Ao mesmo tempo que afastou o polêmico José Dirceu da Casa Civil, Lula despachou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, em missão de paz junto a líderes da oposição. No dia 14 de junho, um dia antes da saída de Dirceu, o ministro da Justiça jantou com um dos líderes da oposição, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). No dia 21 de junho, um dia antes do discurso que marcou o retorno de Dirceu à Câmara, Bastos teve longa conversa por telefone com o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB).

Esta foi a forma que Lula encontrou para se desvincular de eventuais arroubos de seu ex-ministro. No pronunciamento que fez em rede nacional de rádio e TV, na quinta-feira, sua nova disposição foi enfatizada quando disse que seu governo está aberto a todos e com a mão estendida: "Acima de interesses particulares está o interesse nacional, a preservação e o aperfeiçoamento das instituições. Esse é o sentido maior que exige o espírito de colaboração, a mão estendida, mesmo na diversidade de opiniões… São esses os propósitos do meu governo, que estará sempre aberto para todos aqueles que estão buscando, verdadeiramente, o bem do nosso país e do povo brasileiro".

Este também foi o discurso que Bastos fez há 12 dias na conversa com Antônio Carlos. O ministro queria organizar um encontro entre o senador baiano, o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), e saber como a oposição poderia ajudar o governo. Antônio Carlos respondeu dizendo que havia disposição para o diálogo, mas que isto não poderia ser feito agora, sob pena de eles serem desmoralizados. Disse que era preciso esperar a tormenta passar e envolver neste diálogo todo o PFL, a começar pelo seu presidente, o senador Jorge Bornhausen (SC), um dos mais ácidos críticos do governo.

"Lula queria a saída de Dirceu para mandar um sinal para a oposição. Com Dirceu no governo era impossível buscar o entendimento com o PSDB e o PFL do Jorge", diz Antônio Carlos. A conversa com Serra foi na mesma direção e a disposição do tucano foi a mesma. Mas este também ponderou que era preciso baixar a poeira, antes que se faça qualquer gesto em direção ao diálogo por uma pauta de temas relevantes. O tucano estava preocupado em conter o acirramento dos ânimos e confiante que é possível que governo e oposição voltem a ter uma agenda comum, a exemplo das reformas da Previdência e tributária no primeiro ano do governo Lula.

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