Lula diz que reformas não sairão a toque de caixa

São Paulo

– O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem, em São Paulo, que as principais reformas que o futuro governo pretende fazer, como a tributária, a política, a da Previdência e a trabalhista, não serão executadas a toque de caixa, apesar da necessidade de serem adotadas com urgência. “Essas reformas serão feitas de forma sadia e tranqüila”, afirmou. Lula disse que, para cada mudança, serão criados fóruns de debate reunindo todos os representantes da sociedade, como empresários, trabalhadores e aposentados, com o objetivo de discutir amplamente o assunto e atender a todos os segmentos.

“Há sempre um jeito de se fazer as coisas sem uma agressão maior a quem quer que seja. Na política, aprendi que não sai nada na marra. Ou você cria um processo de convencimento ou não faz nada”, disse. Ao explicar que o novo governo pretende realizar as reformas de maneira democrática, ele criticou os dirigentes sindicais presentes na reunião: “Complicado é começar uma greve e não saber como parar”, afirmou, para dizer, em seguida, que o momento não é de enfrentamento, mas sim de diálogo.

“Temos de aproveitar este momento de vontade extraordinária da sociedade brasileira e saber a importância do tamanho do passo que vamos dar para qualquer coisa.” Nesta altura, Lula admitiu que o PT perdeu as eleições para governador no Rio Grande do Sul, em 6 de outubro, não porque tenha errado na administração, mas sim na política. Segundo o presidente eleito, “o povo não espera mais discursos de seus governadores e sim ações”.

Um outro recado de Lula aos sindicalistas, na reunião no Teatro Hilton, no centro de São Paulo, foi sobre o salário mínimo. Ele disse que, se não puder reajustar o salário mínimo de R$ 200 para R$ 240, não o fará. De acordo com Lula, “nada, nada mesmo” o fará deixar de falar a verdade ao povo, por mais dura que seja a realidade. “Se pudermos dar um mínimo de R$ 240, vamos dar, mas se não puder, não daremos.” De acordo com Lula, as discussões sobre o reajuste do salário mínimo estão sendo feitas de forma antecipada.

Ele afirmou que fará um governo baseado na lealdade com a população, tanto nos bons como nos maus momentos. “Não posso vender facilidades”, considerou. Além de dizer que as discussões a respeito do mínimo estão sendo realizadas antes do tempo próprio, Lula deixou claro que não aceitará pressão para indicar ou antecipar os nomes da equipe de governo. O presidente eleito disse: “Sei a quantidade de toneladas que carrego nas costas.” Segundo Lula, no País, há apenas 25 ministérios e, entre os critérios que definem a composição, está o pessoal. “Se tiver de escolher para o mesmo cargo entre dois nomes de grande competência, vou ter de optar por aquele que tenho mais confiança.”

O presidente eleito lembrou, mais uma vez, que não fará um governo só do PT. “Quero fazer um governo plural, de competência e sensibilidade política. Quero dizer que este barco tem comandante.” No fim do discurso de cerca de uma hora, Lula reiterou aos sindicalistas: “Vocês nunca serão pegos de surpresa.” O presidente eleito voltou a pedir união em torno das propostas de consenso para consertar as questões do País. Mesmo afirmando que as discussões do mínimo estão sendo feitas antes do previsto, Lula disse que o governo eleito dobrará o poder aquisitivo do salário em quatro anos.

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