Lula cria secretaria para combater a fome

São Paulo

– Em um pronunciamento de 18 minutos no início da tarde de ontem, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou a criação da Secretaria de Emergência Social, cuja primeira tarefa será o combate à fome. Ele disse que, apesar das restrições orçamentárias para 2003, está convencido de que é possível agir com criatividade e determinação na área social, criar emprego e propiciar melhor condição de estudo para a população de baixa renda.

“Meu governo terá o selo do combate à fome. Acredito que este é o clamor mais forte da sociedade. Se no fim do mandato cada brasileiro puder se alimentar três vezes por dia, terei realizado a missão da minha vida”, disse. Em seu primeiro pronunciamento público, como presidente eleito, Lula garantiu que seu governo não vai descuidar do combate à inflação, reafirmou que cumprirá contratos e agirá com responsabilidade fiscal. Ele disse que o trabalho é o caminho do desenvolvimento do país e que seu governo pretende atrair investimentos produtivos internacionais.

Aos investidores estrangeiros, Lula disse que o Brasil fará sua parte para superar a crise e ressaltou que é essencial, além do apoio de organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird), que os demais países retirem subsídios e barreiras protecionistas. Lula afirmou que gerar emprego será obsessão de seu governo e que mobilizará recursos disponíveis em bancos públicos e fará parcerias para que isso seja possível. “Estou otimista, sinto que um novo Brasil está nascendo”, disse.

Logo no início de sua fala, Lula afirmou que o Brasil inicia um novo ciclo histórico com as eleições desse domingo e que o processo eleitoral foi de alta qualidade, com debate limpo e franco. Ele elogiou a contribuição da Justiça Eleitoral e do presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmando que ele cumpriu de forma equilibrada seu papel constitucional. Lula afirmou que as eleições representaram acima de tudo a vitória da sociedade brasileira e trouxeram alternância no poder sem a qual, segundo ele, a democracia perde a essência.

“Foi um belo espetáculo democrático que demos ao mundo. A grande virtude da democracia é que ela permite ao povo mudar o horizonte quando acha necessário”, disse. O presidente eleito se encontrará hoje às 11h com o presidente Fernando Henrique Cardoso, durante 30 minutos, no Palácio do Planalto. Depois do encontro, Fernando Henrique e Lula terão uma reunião ampliada com seus principais assessores. O presidente estará acompanhado do coordenador da transição, ministro Pedro Parente, e do secretário-geral da Presidência, Euclides Scalco.

Já Lula estará acompanhado do presidente nacional do PT, José Dirceu, que será o coordenador da equipe de transição do presidente eleito, e pelo coordenador do programa de governo, Antonio Palocci. A equipe de transição que será anunciada hoje não será o ministério de Lula, anunciou Palocci. “O ministério que deverá ser nomeado vai ser para governar. Nós não podemos fazer da nomeação do ministério a resposta a alguma coisa de circunstância”, disse Palocci. Ele “tem certeza” de que Lula vai nomear o “melhor ministério possível”, incluindo representantes de outros partidos. “Agora o ministério precisa ser construído com o tempo que for necessário para ser um grande ministério, que é o que esse País precisa”, enfatiza. A tendência é buscar um “governo amplo”, disse.

Jornais destacam a vitória de Lula

Washington

– A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva foi destaque em todos os jornais importantes do mundo. Nos Estados Unidos, o tradicional “The New York Times” diz que “Brasil consolida virada da esquerda”, enquanto o “Wall Street Journal” destaca que “Crescimento da economia será 1.º desafio de Lula”. Também nos Estados Unidos, a rede norte-americana CNN informa que “Pleito é histórico para a esquerda” e ainda o “New York Times” analisa que “Lula teve que se mover ao centro” para vencer as eleições. O londrino “Financial Times” aponta que “Apesar dos desafios, Brasil está pronto para Lula”. Já o “The Independent” diz que o triunfo de Lula poderá trazer “ondas de choque para a América Latina e problemas no relacionamento entre Brasil e EUA”. Os principais jornais espanhóis destacaram que “Vitória de Lula é histórica e indiscutível” e o “Público”, de Portugal, noticiou que o “Voto confirma as pesquisas”. O Corriere Della Sera, de Milão, alerta para as dificuldades econômica, ao observar que “Otimismo não acalma banqueiros”. O francês “Libération” analisou que economia fraca influenciou muito na vitória de Lula, enquanto o “Le Monde” estampou que o Brasil se inclina para a terceira via.

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