Lula cedeu aos estados sobre inativos

São Paulo

– A contribuição dos inativos não era “tão fundamental” no projeto original da reforma da Previdência. Mas a inclusão deste ponto foi um pedido dos governadores que se reuniram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fechar consenso em torno das mudanças fundamentais para o Brasil, admitiu o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini.

“O presidente Lula atendeu aos pedidos de diversos governadores para que a contribuição fosse colocada na proposta”, explicou. O ministro reconheceu que, sem essa contribuição dos inativos, a União deixará de contar com algo em torno de R$ 1,9 bilhão por ano. Berzoini confirmou a intenção do governo de enviar até o dia 30 deste mês a proposta de reforma previdenciária ao Congresso Nacional, de maneira conjunta com os 27 governadores, prevendo que as mudanças estarão aprovadas num prazo de três e cinco meses.

As reações contrárias à proposta de reforma da Previdência não impressionam o ministro. “São típicas da primeira semana de discussão”, disse. Segundo ele, as propostas ainda não estão claramente compreendidas. Além disso, ele acha natural que a oposição queira ver antes a manifestação de apoio da base aliada. Berzoini disse sentir um clima favorável para a aprovação das reformas. “Os parlamentares se sensibilizam com o argumento de que o objetivo principal é melhorar o manejo do Orçamento da União nos próximos três anos.”

Sobre os pontos mais polêmicos da proposta, como a taxação dos servidores inativos, o ministro da Previdência insistiu que a medida não fere o direito adquirido. “É uma lógica contributiva não de redução do benefício”, disse ele. Ao propor que a contribuição incida apenas sobre o que exceder R$ 1.058, Berzoini explicou que a intenção foi beneficiar as menores aposentadorias, já que a imensa maioria da população ganha menos que esse valor. Ele também esclareceu que a alíquota de 11% de contribuição dos servidores públicos se aplicará tanto para aposentados como pensionistas. Segundo Berzoini, um aumento do limite de isenção dos R$ 1.058 propostos pelo governo para R$ 2.400, imporia à União uma perda de arrecadação de R$ 600 milhões ao ano.

Quanto ao teto de 70% para as pensões dos servidores públicos, o ministro esclareceu que não se aplicará aos atuais pensionistas. “Não vale para os atuais porque afrontaria o direito adquirido”, disse Berzoini. De acordo com ele, essa mudança de regras estabelece novas condições para os futuros pensionistas. O servidor público que está na ativa e gerar uma pensão futura, explicou Berzoini, seguirá esse teto de 70%. Sobre os militares, o ministro explicou que poucos brasileiros sabem que os eles já contribuem com uma alíquota de 7,5% para a Previdência Social. O ministério, no entanto, finalizará estudos na próxima semana sobre essa contribuição e não descarta mudanças nessas regras que visem uma melhor perspectiva do financiamento do sistema.

Aécio vê razão eleitoral

Ijaci

– MG (AE) – As resistências entre algumas lideranças do PT e da base aliada à aprovação das reformas no Congresso é motivada por interesses eleitorais, sugeriu ontem o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). Ele voltou a cobrar um discurso unificado do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua sustentação parlamentar. Para ele, os petistas contrários às reformas precisam ter “uma visão mais do futuro”, menos corporativa.

“No momento em que essas propostas são encaminhadas ao Congresso é preciso que as lideranças do PT tenham uma visão menos direcionada para sua eventual base ou para uma eleição do ano que vem e mais voltada para o Brasil. É isso que esperam delas todos os brasileiros”, disse o governador mineiro, após solenidade de inauguração de uma unidade industrial da Camargo Corrêa Cimentos, em Ijaci, no Sul de MG.

A condução da base governista pelo Planalto, segundo o governador, é “fundamental” para que os “partidos que perderam as eleições possam estar juntos também, votando a favor das reformas”. “Não é possível cobrar daqueles que são oposição, mas que estão dispostos a aprovar as reformas, uma unidade maior do que a do próprio partido do governo.”

Aécio reafirmou a disposição de apoiar as propostas que serão enviadas ao Congresso e disse estar convicto de que o presidente Lula conseguirá vencer as resistências e as dissidências de parte do bloco de sustentação do governo.

Governo envia projeto

Agência Câmara – A Câmara dos Deputados deve receber na próxima quarta-feira (30) as reformas da Previdência Social e tributária. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende entregar pessoalmente as propostas aos presidentes da Câmara, João Paulo Cunha, e do Senado, José Sarney.

A proposta de reforma da Previdência cria novas regras para a aposentadoria dos servidores públicos que estão na ativa, para os aposentados e para os que ainda vão entrar no serviço público. Um dos temas mais polêmicos é a idéia de cobrar a contribuição previdenciária dos servidores públicos aposentados.

A intenção de taxar os inativos já foi rejeitada pelo Congresso por três vezes, além de ter sido considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Apesar da polêmica, o deputado João Paulo Cunha pretende dar encaminhamento normal à proposta de emenda constitucional. “Se as reformas chegarem na quarta-feira, nós vamos imediatamente distribuir aos órgãos responsáveis e vamos começar a andar.”

Para que a proposta de emenda à constituição chegue ao Congresso com o conhecimento prévio dos deputados, o ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini, pretende se reunir na terça-feira (29) com todos os membros da comissão especial que discute a reforma previdenciária.

A idéia é ouvir as dúvidas dos parlamentares e assegurar o apoio dos partidos da base de sustentação do governo.

PDT ameaça boicote

Rio

– Embora faça parte da base governista, o PDT começa a montar entre deputados e senadores uma frente de parlamentares pluripartidária que terá como objetivo barrar as iniciativas do governo na reforma da Previdência que, no entendimento dos parlamentares, prejudiquem os interesses dos aposentados.

Numa reunião anteontem à noite, o diretório nacional do PDT fechou questão contra a cobrança de contribuição dos inativos, contra um teto menor que o já estabelecido na Constituição (o salário do ministro do STF) e contra a criação de um regime único de previdência, que colocaria em igualdade de condições servidores públicos e funcionários da iniciativa privada.

Além do bloco parlamentar, segundo o vice-presidente do PDT, Carlos Lupi, o partido está criando um movimento em defesa dos aposentados, que entre outras medidas já pediu a um grupo de advogados que estude quais são as medidas judiciais possíveis para tentar barrar as iniciativas governistas. Paralelamente, o deputado federal Alceu Collares (PDT-RS) coordenará os trabalhos de uma comissão que vai elaborar propostas para a Previdência. – Estamos amadurecendo a idéia e acho que vamos conseguir fazer um bloco pluripartidário. Achamos que podemos reunir mais de 100 deputados na defesa dos aposentados – afirmou Lupi.

Segundo ele, além dos 17 deputados do PDT, o bloco deverá contar com parlamentares da esquerda do PT e até dos partidos que foram da base do governo Fernando Henrique Cardoso.

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