Jefferson arrasta o PT para o inferno

Celso Junior / AE

Deputado acusa tesoureiro petista, Delúbio Soares, de pagar "mensalão"
e abala o governo.

Brasília – Se a crise em que o governo se envolveu com as denúncias de pagamento nos Correios de propinas a integrantes do PTB já tiravam o sono do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a entrevista que o presidente nacional do PTB, deputado federal Roberto Jefferson, deu à Folha de S. Paulo, jogou o Palácio do Planalto, o presidente Lula e o PT num verdadeiro inferno, cujas conseqüências são imprevisíveis.

Roberto Jefferson faz denúncias graves contra o tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Segundo ele, Delúbio pagava uma mesada de R$ 30 mil a deputados federais do PP e do PL, partidos da base aliada, em troca de apoio no Congresso. Jefferson contou que os ministros José Dirceu, da Casa Civil, e Antônio Palocci, da Fazenda, foram informados por ele sobre o esquema. O "mensalão", porém, só deixou de ser pago depois que o próprio Jefferson denunciou o crime ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o deputado, Lula chorou ao saber do pagamento de propina.

As denúncias de Jefferson, que vinha evitando a imprensa nos últimos dias, acuado por denúncias de corrupção nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) envolvendo funcionários indicados pelo PTB, causaram reação imediata. O presidente Lula marcou uma reunião da coordenação política do governo assim que soube da entrevista.

O PT distribuiu nota à imprensa negando as afirmações do deputado Roberto Jefferson. O partido garante desconhecer as denúncias e diz ter recebido as declarações de Jefferson com surpresa e indignação. O presidente nacional do PT, José Genoino, em entrevista coletiva, classificou o caso como "uma fantasia, uma história sem pé nem cabeça":

"Nem o PT, nem o governo, nem os aliados do presidente Lula estão num mar de lama. Estamos com boa relação com grande parte do PTB, relação esta que sempre foi política. Nunca pautamos nossas relações com esse tipo de conversas", disse Genoino, visivelmente abalado com as denúncias que acertaram em cheio a cúpula petista. Sobre a possibilidade de o PTB ser expulso da base aliada ao governo, Genoino afirmou que a questão não passa por uma discussão interna do PT.

Segundo Jefferson, a propina mensal do PT aos deputados de outros partidos da base começou a ser paga em 2003. Jefferson disse que o ministro José Dirceu soube no início de 2004: "O Zé deu um soco na mesa: ‘O Delúbio está errado. Isso não pode acontecer. falei para não fazer’. Eu pensei: vai acabar, mas continuou", contou o presidente do PTB na entrevista.

Jefferson disse que a suspensão do "mensalão" explica parte das dificuldades do governo em aprovar seus projetos no Congresso: "É mais barato pagar o exército mercenário do que dividir poder. É mais fácil alugar um deputado do que discutir um projeto de governo. É por isso. Quem é pago não pensa", afirmou o presidente do PTB. 

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