Governo Lula deixa UTI e pensa em 2006

  Válter Campanato / ABr
Válter Campanato / ABr

Aproveitando a trégua da crise, Lula
trocou os discursos inflamados
para platéias populares pelas
negociações de bastidores.

Brasília – As eleições para a presidência da Câmara anteciparam o alinhamento das forças políticas que vão disputar as eleições presidenciais do ano que vem. O governo Lula saiu da UTI e deu o primeiro passo para rearticular sua base parlamentar a partir de um núcleo formado por PT, PSB e PCdoB.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveita essa trégua da crise. Trocou os discursos inflamados para platéias populares pelas negociações de bastidores. Atuou na vitória do deputado Aldo Rebelo na presidência da Câmara e já trabalha para consolidar alianças que o levem à reeleição, inclusive com candidatos competitivos nos estados. A oposição também encontrou um rumo. O PSDB e o PFL marcharam juntos na eleição da Câmara e praticamente decidiram que serão aliados em 2006. "Tivemos uma grande vitória. O PSDB e o PFL saíram unidos", afirma o ex-líder do PSDB Jutahy Magalhães Júnior (BA).

O PMDB, alvo da cobiça do presidente para dividir palanques em 2006, aprofundou a rachadura e sinalizou que vai para a sucessão presidencial dividido, mesmo que decida lançar um candidato próprio. A tentativa de construir uma terceira via ficou mais distante, não apenas pela divisão do PMDB, mas também pelos caminhos opostos que adotaram o PPS, que deu apoio ao candidato da oposição, José Thomaz Nonô (PFL-AL), e o PDT, que ficou com o governista Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

A vitória do candidato do governo é vista no Congresso, por governistas e oposicionistas, como o início de uma nova fase na luta política que começou com as denúncias de corrupção nos Correios e de pagamento de mensalão para deputados aliados. O embate era travado de forma desigual até agora, com a oposição dando uma sova nos partidos que apóiam o presidente Lula. Com a retomada do controle da Câmara, o governo deve recuperar a iniciativa política.

"A base ainda não está organizada e fiel, mas trabalharei para isso daqui para a frente ao lado do ministro Jaques Wagner", observa o líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).

As CPIs, no entanto, não encerraram suas atividades e já deixaram seqüelas graves no governo e no PT, que a oposição pretende manter vivas na memória da população. "O governo deu um passo à frente, é inegável. Estava acuado e rompeu o cerco. Mas está longíssimo da reta de chegada", diz o senador José Agripino (RN), líder do PFL.

Muita sede

Os líderes do governo consideram que a oposição foi com muita sede ao pote ao tentar derrubar o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti, presença que tornava mais agudos os efeitos da crise. O novo presidente é um conciliador e encontra no presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um aliado do governo.

"A oposição cometeu um erro. O Severino era um fator de instabilidade", diz o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), que responde a processo no Conselho de Ética da Câmara por quebra do decoro parlamentar. Acuado desde maio, Lula interveio pessoalmente na disputa pela presidência da Câmara. Ganhou, mas leva o desgaste da montagem de uma operação que envolveu vários ministros e a promessa de liberação de recursos orçamentários. Pior do que as críticas, analisam os governistas, seria sair derrotado, como em fevereiro, quando Severino venceu.

O desenho político redefinido no Congresso e o fôlego obtido pelo governo promete acirrar a disputa com a oposição. Sempre de olho em 2006. "Segunda-feira estou pronto para a guerra", avisa o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). A disposição do outro lado é a mesma e o palco da briga continuará a ser o plenário das CPIs: "Não permitiremos qualquer operação-abafa. Vamos denunciar qualquer movimento", diz o senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB.

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