?Fogo amigo? do governo desgasta ministro Palocci

Às vésperas de comparecer ao Congresso para prestar esclarecimentos, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, viu sua situação agravar-se ontem. Além de voltar a sofrer ataques de governistas e oposicionistas, Palocci ficou ainda mais vulnerável com os depoimentos à CPI dos Bingos de Rogério Buratti e Vladimir Poleto, seus ex-auxiliares na prefeitura de Ribeirão Preto. Em meio a essa crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comandou ontem uma operação para segurar Palocci no cargo.

O ministro enfrenta o momento de maior desgaste desde o início do governo. Sua permanência na equipe depende do desfecho das investigações que o jogaram no centro da crise política depois de sucessivas denúncias de corrupção. Sem a blindagem que o protegia das acusações, Palocci chegou a dizer a Lula que, se tiver de prestar depoimento em uma CPI, deixará o cargo. O presidente não aceita essa hipótese. Uma negociação de bastidor conduzida pelo governo acertou que Palocci comparecerá apenas à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, no dia 22.

Na tentativa de conter o ?fogo amigo? para baixar a temperatura da crise, Lula também pediu à ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, que não faça mais críticas públicas ao ajuste fiscal de longo prazo e ao aumento do superávit primário. Em entrevista publicada anteontem, Dilma deu sucessivas estocadas no plano de ajuste proposto pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Chamou o plano de ?rudimentar? e disse que esse debate é ?absolutamente desqualificado?. ?Para a dívida pública não crescer, é preciso ter uma política de juros consistente, porque senão você enxuga gelo seco?, afirmou a ministra, provocando a ira de Palocci.

Sucessora de José Dirceu na Casa Civil, Dilma desculpou-se com Palocci e Bernardo, alegando que se expressou mal. Conhecida como dama-de-ferro, ela afirmou que, quando falou em ?rudimentar?, quis dizer ?incipiente?. Mas o estrago já estava feito. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), tentou pôr panos quentes nas divergências. ?Não há nenhum tipo de briga. Há um diálogo e uma disputa sobre concepções, como ocorre em todos os governos?, amenizou Mercadante. ?Mas há situações em que esse debate ganha conotação inoportuna, como agora, em que Palocci sofre ataque frontal. O momento é muito delicado.?

Vice apóia Dilma

Em meio ao esforço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reduzir a pressão contra a política econômica, o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, criticou duramente o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, defendendo a posição da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que cobra a abertura da torneira dos investimentos. ?Por força de minha experiência de vida, dou razão à ministra Dilma Rousseff, porque tenho dito que o regime de juros no Brasil, especialmente no que diz respeito à taxa básica, à taxa Selic, do ponto de vista real, é a mais alta do mundo, é dez vezes a taxa média de 40 países?, disse Alencar. ?O ministro Palocci está errado e tem de mudar de idéia. Esta política entrava o nosso desenvolvimento e está matando a economia.?

Mais ataques

O advogado Rogério Tadeu Buratti reafirmou ontem, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, informações sobre a suposta doação de US$ 3 milhões de Cuba para a campanha presidencial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Buratti disse ter sido consultado em maio ou junho daquele ano, por Ralf Barquete, secretário de Fazenda do então prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Palocci, sobre o melhor ?mecanismo? para entrar com recursos no Brasil. ?Ele disse que fazia a pergunta a pedido do Palocci?, relatou Buratti. ?Respondi que era por meio de doleiros. Na ocasião, eu não sabia que o dinheiro sairia de Cuba.?

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