Fernanda complica Marcos Valério

Brasília – Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Marcos Valério, em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, ontem, complicou a vida do publicitário. Ela contou que ele não cria bois nem tem fazendas. Na semana passada, Valério atribuiu suas grandes retiradas de dinheiro (R$ 20,9 milhões, no total) no Banco Rural para compra de gado.

O publicitário é suspeito de intermediar o suposto esquema de pagamento de mesadas a deputados para que votassem a favor do governo na Câmara. "Não tenho conhecimento sobre propriedades rurais (de Marcos Valério). Ele é criador de cavalos, não de bois. Não tem fazendas", afirmou a ex-secretária, que trabalhou para o publicitário durante nove meses. No depoimento, Fernanda Karina falou também que nunca ouviu falar sobre mensalão enquanto trabalhou para Valério.

Durante 32 minutos em que respondeu a perguntas do relator do Conselho de Ética, Jairo Carneiro (PFL-BA), a ex-secretária reafirmou que Marcos Valério tinha encontros freqüentes com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira. Fernanda negou ter dito que o dinheiro sacado por Marcos Valério vinha de empresas estatais. Ela não soube explicar a origem do dinheiro movimentado pelo publicitário. Segundo a ex-secretária, quando ia a Brasília, Marcos Valério tirava muito dinheiro e sempre se encontrava com Delúbio e Sílvio.

Fernanda confirmou também a ligação de seu ex-patrão com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Ela disse que eventualmente fez ligações telefônicas do publicitário para Dirceu. A ex-secretária contou que, para falar com Dirceu, era preciso ligar para São Paulo e avisar que Marcos Valério precisava falar com o ex-ministro. Ela também confirmou que Valério tinha relações com Carlos Rodenburg e Daniel Dantas, sócios do banco Opportunity.

Fernanda confirmou ainda que Valério tinha relacionamento estreito com Henrique Pizzolato, funcionário do Banco do Brasil em Brasília, e com pessoas da área de marketing do banco. No depoimento, ela passou aos integrantes do Conselho de Ética uma cópia de sua agenda com ligações para Delúbio e Sílvio Pereira.

Fernanda Karina disse que quem fazia os saques em agências bancárias eram os office-boys Marquinhos e Orlando e que quem contava o dinheiro que Marcos Valério levaria em malas para Brasília era a diretora do Departamento Financeiro, Simone, que estaria "cansada de contar dinheiro". A ex-secretária também confirmou que foi ameaçada depois da entrevista que deu à revista IstoÉ e por isso desmentiu as denúncias um tempo depois.

Sigilo

Os deputados e senadores da CPI Mista dos Correios que são da oposição pressionaram e o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), concordou que seja solicitada a quebra imediata dos sigilos fiscal, telefônico e bancário do publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão e de ter sacado R$ 21 milhões do Banco Rural, segundo documentos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O montante pode ter sido usado para pagar propinas a deputados da base em troca de apoio aos projetos do governo.

Dia tenso

O clima começou tenso na CPI dos Correios ontem pela manhã. Os parlamentares tiveram que conter a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) e o deputado Maurício Rands (PT-PE) momentos antes da abertura da reunião da comissão. Irritado com a forma como Heloísa se dirigia a ele, Rands segurou a mão da senadora e exigiu que ela parasse de gritar e de colocar o dedo próximo a seu nariz. Heloísa não se intimidou e teve de ser contida pelo deputado ACM Neto (PFL-BA) e os senadores Romeu Tuma (PFL-SP) e Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI.

A CPI estava discutindo a pauta e os documentos a serem solicitados pela comissão, que ouviria os depoimentos de Jairo Martins, Joel Santos Filho e Arlindo Molina Gonçalves, suspeitos de fazer a gravação da fita em que o ex-chefe do Departamento de Contratação dos Correios Maurício Marinho aparece recebendo R$ 3 mil supostamente de propina.

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