“Febre” de Tropa de Elite pode revelar defesa de tortura

A adoração por personagens como Capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite, e Jack Bauer, da série de TV 24 Horas, reflete não apenas o sucesso alcançado por essas grandes produções. A boa recepção do público pelos personagens, que abusam de atos violentos e de tortura em suas tramas, revela ainda uma aceitação da sociedade com métodos de combate ao crime acima da lei. Esta é a opinião de especialistas presentes no 1º Seminário Internacional contra a Tortura, realizado em São Paulo.

Para o conselheiro da Anistia Internacional, Yuval Ginbar, em toda situação de guerra ou de conflitos surgem heróis e é normal que na indústria de entretenimento "nasçam aqueles que irão salvar o mundo de algum mal". Mas o que preocupa o estudioso é a mensagem que essas produções passam ao público. "Muitos vêem esses personagens apenas como entretenimento, apenas como um produto do mundo hollywoodiano. Mas para outros, a mensagem é: ‘Isto é a realidade e é assim que se lida com essas pessoas’", disse.

A mesma opinião tem a deputada geral do conselho da organização Human Rights Watch, Dinah Pokempner, uma das palestrantes do evento. "A mensagem que se passa é a de que a violência é necessária, além do que a não-violência é associada à mulher, ao feminino", afirmou. Ela disse que as pessoas "já se acostumaram com a violência excessiva vista em filmes e na mídia".

Como solução, Pokempner defende o debate na sociedade sobre o papel da violência e da violação dos direitos individuais e suas conseqüências. Nesse aspecto, ela concorda que a repercussão do filme Tropa de Elite, de José Padilha, suscitou o debate – "em vários setores da sociedade" – sobre a atuação e os supostos métodos de tortura usados pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) no combate ao tráfico de drogas e disse que esse foi o "aspecto positivo" no sucesso do longa.

Já o Ph.D. do Centro de Filosofia Aplicada e Ética Pública da Universidade Nacional da Austrália, Fritz Allhoff, acredita que o medo da sociedade explica a adoração pelos personagens. "Essa idolatria se deve muito ao medo das pessoas, medo da violência, do terrorismo, o que justificaria as ações desses personagens", afirmou. O 1º Seminário Internacional sobre a Tortura terminou nesta quarta-feira (27) e foi realizado no auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

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