Empresários querem ‘Ceagesp privado’ em Perus

A Prefeitura de São Paulo recebeu uma proposta nesta quarta-feira, 13, para a criação de uma alternativa à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), do governo federal, localizada hoje na Vila Leopoldina, zona oeste da cidade. O novo armazém, sob administração privada, ficaria em um terreno particular de quatro milhões de metros quadrados em Perus, na zona norte de São Paulo, com investimento de R$ 5 bilhões.

A busca por um novo espaço para a realização das atividades do Ceagesp vinha sendo feita desde o ano passado por um convênio firmado entre o governo federal e a prefeitura paulista. O entendimento é que o equipamento causa grande congestionamento na região – são pelo menos 14 mil veículos trafegando diariamente – além de poluição e outros prejuízos ao meio ambiente.

A proposta da gestão municipal é que seja feito um novo planejamento de urbanização para o bairro da Vila Leopoldina, com empreendimentos imobiliários, áreas de habitação de interesse social e instalação de equipamentos públicos como creches, postos de saúde e praças. Segundo o prefeito Fernando Haddad (PT), as alterações poderiam trazer mais de 30 mil empregos na região e movimentar R$ 10 bilhões em investimentos.

As alterações dependem, no entanto, do aval do governo federal. Após a substituição da senadora Kátia Abreu (PMDB) no Ministério da Agricultura pelo atual ministro Blairo Maggi, ainda não há definição sobre se o projeto será mantido. O novo presidente da Ceagesp, Antonio Carlos do Amaral Filho, ligado ao PP, partido da base aliada do presidente Michel Temer, já se diz contrário à medida. Ele defende que o novo armazém seja uma expansão da área atual, não uma substituição. “Nosso espaço é de 700 mil metros quadrados, mas a Ceagesp deveria estar ocupando uma área da ordem, talvez, de 2 milhões de metros. Temos de expandir”, disse. O jornal O Estado de S. Paulo procurou o ministério, mas não teve retorno até às 18h20.

Se não houver acordo entre as partes, há a possibilidade de que a cidade fique com os dois entrepostos simultaneamente, hipótese que a Prefeitura tenta evitar. “Ao município é desejável que a atividade vá para outro local, preferencialmente dentro da cidade”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo o diretor de desenvolvimento da SP Urbanismo, Gustavo Partesani.

Projeto

A primeira proposta de um novo espaço, feita pelo Novo Entreposto de São Paulo (Nesp) – um grupo de 25 produtores e comerciantes que hoje atuam na Ceagesp – deverá passar por uma análise de 120 dias. Neste período, outras empresas poderão apresentar projetos e haverá, segundo a Prefeitura, realização de audiências públicas nos bairros. O espaço poderá ser criado mesmo sem aval do governo federal, deixando a cidade com dois entrepostos diferentes.

O prefeito Fernando Haddad defendeu a mudança e disse que o projeto apresentado “dialoga” com os interesses da cidade. “Há vários objetivos condensados nesse projeto. A região de Perus vai ser enormemente beneficiada pela descentralização de oportunidades de trabalho”, disse. Com o empreendimento, a Prefeitura terá direito a ficar com 40% do terreno. “Vai significar creche, parque, posto de saúde. Também garantiremos a recuperação de parte da vegetação”, explicou.

Para a arquiteta, urbanista e professora da Universidade de São Paulo (USP) Maria Lucia Refinetti Martins, o interesse pela mudança do Ceagesp é principalmente econômico. “O que seguramente vem nessa discussão, que está aí há muito tempo, é que a área está valorizada demais para este tipo de uso. O problema não é o caminhão na região. Do ponto de vista do funcionamento do Ceagesp, está tudo muito bem, obrigada. A questão central é outra”, disse.

Segundo Maria Lucia, qualquer mudança na região demandará um novo projeto urbanístico que privilegie o local. “Você pode ter uma perspectiva de ser uma área que tenha mais habitação popular, mais área pública. Mas infelizmente os grandes projetos que acabamos vendo são de reproduzir imóveis de alto valor e de sempre usar a lógica de que pagar mais, leva. Não é exatamente a lógica que esperamos para a cidade”.

Voltar ao topo