Dólar fecha em alta pelo quarto dia consecutivo

O câmbio continuou hoje (5) sob pressão, afetado pela turbulência no cenário internacional e pelas dificuldades do Banco Central (BC) em rolar US$ 2 bilhões de títulos e contratos atrelados ao dólar que vencem no dia 11. A moeda subiu 1,03%, cotada a R$ 3,152, fechando em alta pela quarta vez seguida, apesar de o BC ter vendido entre US$ 50 milhões e US$ 80 milhões no mercado à vista, segundo operadores. O mercado de títulos da dívida externa também foi atingido. O C-Bond recuou 1,03%, negociado a 60,25% do valor de face, contribuindo para a alta de 0,77% do risco país, para 1.711 pontos.

        O diretor de Investimentos da ABN Amro Asset Management, Alexandre Póvoa, disse que as notícias surpreenderam negativamente os investidores brasileiros nesta semana. Segundo ele, muitas instituições começaram setembro apostando que o BC usaria o viés de baixa, o instrumento que permite à instituição reduzir os juros a qualquer momento. No entanto, o temor de que a economia americana entre em recessão e o medo de que os Estados Unidos ataquem o Iraque – o que jogou o preço do petróleo nas alturas – pegaram muitos investidores no contrapé. A taxa dos contratos futuros de juros para janeiro pulou de 19 72% na sexta-feira para 20,74% ao ano. O dólar subiu 4,72% em quatro dias, ampliando a valorização no ano para 36,1%.

        O volume expressivo de vencimentos de títulos e contratos atrelados ao câmbio nas próximas semanas também ajuda a pressionar a moeda. De hoje até o fim de outubro, vencem nada menos de US$ 9,766 bilhões desses papéis. O vencimento mais próximo é do dia 11, de US$ 2 bilhões.

        Hoje, o BC fez a primeira oferta de contratos de swap para tentar rolar esses títulos. A instituição leiloou cinco lotes de contratos, com vencimentos entre novembro deste ano e julho de 2003. Do US$ 1,6 bilhão ofertado, o BC vendeu US$ 715 milhões, pagando taxas entre 23,77% e 30,11% ao ano, além da variação cambial. ?O BC não vendeu tudo porque considerou elevadas as taxas pedidas pelos bancos?, disse um operador. Amanhã o BC vai ofertar mais cinco lotes de contratos de swap.

        O economista-chefe do Crédit Suisse First Boston (CSFB), Rodrigo Azevedo, disse que os vencimentos de papéis cambiais são uma fonte potencial de pressão sobre a moeda, ressaltando que as condições da rolagem são afetadas pelo cenário externo e pelo quadro político. Azevedo lembrou que algumas empresas estão desmontando operações de proteção cambial, em boa parte lastreadas nos títulos e contratos cambiais que estão vencendo. Com isso, algumas dessas instituições querem dólares em espécie, para honrar dívidas no exterior. Esse é um dos motivos que explicam por que o BC tem dificuldades em rolar os papéis.

        Outros analistas ressaltam que, à medida que o vencimento se aproxima, algumas instituições que detêm os títulos e contratos tendem a forçar as cotações para cima porque  quanto maior o nível do dólar, maior o ganho.

        E essa pressão tende a se repetir com freqüências nas próximas semanas: no dia 25, há um vencimento de US$ 1,536 bilhão. E, no dia 17 de outubro – entre o primeiro e o segundo turnos – vencem US$ 3,737 bilhões.

        O BC também realizou mais um leilão de linhas para exportação. A instituição ofertou US$ 70 milhões, mas vendeu apenas US$ 52,5 milhões. Os bancos terão de devolver os recursos para o BC em 28 de fevereiro de 2003, em reais, pagando de 4% ao ano. A demanda ficou em US$ 99,5 milhões, mas o BC recusou parte das propostas por causa das baixas taxas oferecidas pelos bancos  segundo operadores.

 

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