Dirceu nega envolvimento em Londrina

O deputado José Dirceu (PT) desmentiu ontem, em Brasília, as denúncias da ex-assessora financeira da campanha à reeleição do petista Nedson Micheleti à Prefeitura de Londrina, Soraya Garcia, sobre a existência de caixa 2 e outras irregularidades. Dirceu considerou absurdas as afirmações da ex-assessora financeira do PT, "uma deslavada mentira", e disse não compreender que, num Estado de Direito, acusações infundadas mereçam tanto espaço na mídia.

Como já havia apontado o presidente do diretório estadual do PT, deputado André Vargas, Dirceu observou que o pano de fundo das denúncias é, na verdade, uma disputa política local entre PT e PSDB. E, mais uma vez, criticou a forma irresponsável com que se imputa o seu partido todo o tipo de irregularidade, sem qualquer comprovação.

Soraya afirmou que o então ministro da Casa Civil José Dirceu levou R$ 300 mil em espécie ao comitê da campanha petista em Londrina, em setembro de 2004. A informação teria sido passada a ela pelo coordenador da campanha de Micheleti, Augusto Dias Júnior, com quem se disse disposta a uma acareação.

A Polícia Federal abriu inquérito para investigar o suposto caixa 2 do PT após Soraya procurar a Promotoria Eleitoral dizendo ter havido sonegação de R$ 6,5 milhões nos gastos apresentados pelo comitê financeiro à Justiça Eleitoral.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, ela também envolveu no suposto esquema o ministro do Planejamento Paulo Bernardo e assessores palacianos. Ela disse que a SMP&B – empresa da qual o publicitário Marcos Valério  Fernandes de Souza era sócio – contribuiu no segundo turno das eleições locais com a locação de cinco veículos. E que a empresa Visatec, de um irmão do deputado federal José Janene (PP) e que tem contratos com o município, alugou veículos para o prefeito Nedson Micheleti e uma BMW blindada para o então ministro José Dirceu, em sua visita à cidade, em 18 de setembro de 2004.

O chefe-de-gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e sua irmã, Márcia Lopes, secretária executiva do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, também foram apontados pela secretária como participantes do suposto esquema de caixa dois.

O empresário Faiçal Jannani, dono da Visatec, confirmou que fez doações ao partido. "Não foi só ao PT que minha empresa fez doações, todas legalizadas. O PSDB e o PP também receberam. Agora, se o PT não contabilizou as doações, não é um problema da Visatec", disse, negando que tenha locado um BMW blindado.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que nunca participou de qualquer tratativa relacionada à campanha em Londrina. E que não deu aval para contratação de cabos eleitorais. Criticou o clima de denuncismo que está se instalando no País: "Qualquer pessoa que fala qualquer coisa tem espaço (na mídia)", desabafou ele, após encontro com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). "Não conheço esta pessoa", declarou o ministro, com relação a Soraya Garcia. 

Ex-assessora petista diz que MST recebeu dinheiro do caixa 2

Londrina (AE) – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) recebeu R$ 90 mil provenientes do caixa 2 da campanha de reeleição do prefeito de Londrina, Nedson Micheleti (PT), denuncia a ex-assessora financeira da campanha, Soraya Garcia. Segundo ela, o PT gastou na reeleição de Micheleti R$ 6,5 milhões e declarou apenas R$ 1,3 milhão de despesas e uma receita de R$ 1,1 milhão. A seção londrinense do MST, disse Soraya, recebeu R$ 10 mil mensais, de fevereiro a outubro do ano passado, para apoiar a candidatura de Micheleti.

Um desses pagamentos, garantiu, foi levado pessoalmente por ela à sede do movimento, situado no centro da cidade. Os demais, acrescentou, foram recolhidos no comitê financeiro da campanha petista, na maioria das vezes por uma representante do MST chamada Lucimar. "Tínhamos que pagar (o MST) em dia, senão eles reclamavam com insistência, alegando que não podiam esperar porque tinham compromissos financeiros urgentes", disse Soraya.

No dia 10 de maio de 2004, lembrou a ex-assessora, o coordenador da campanha de Micheleti e presidente do diretório municipal do PT, Jacks Dias, compareceu à sede do MST, onde foi exibida uma fita de vídeo. Essa fita, explicou, foi apresentada para convencer os dirigentes e militantes do MST para que eles se engajassem na campanha de Micheleti. Dias, que é secretário municipal de Gestão Pública, não quis se pronunciar sobre o assunto.

O advogado do diretório municipal do PT, João dos Santos Gomes Filho, afirmou que a denúncia de Soraya é uma "loucura", uma "viagem alucinógena dirigida por adversários históricos do PT". A coordenação estadual do MST, com sede em Curitiba, foi procurada, mas até o início da noite de ontem não havia comentado a denúncia.

Depoimento

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios quer ouvir Soraya Garcia e a convocação dela foi aprovada na semana passada a pedido do deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). Segundo o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator financeiro da CPMI, ainda não foi definido se Soraya será ouvida por uma subcomissão ou diretamente pela Polícia Federal.

Soraya escreveu a vários deputados e senadores pedindo para ser ouvida pela CPMI. Em e-mail enviado aos parlamentares, ela disse: "Tenho medo do que está acontecendo e minha vida e de minha família (estão) em risco".

Segundo Fruet – um dos destinatários da correspondência de Soraya – , ela envolveu em suas denúncias membros do governo e, por isso, a CPMI quer ouvir o depoimento de Soraya para verificar se haveria conexão entre o eventual caixa 2 da campanha de reeleição em Londrina com o esquema de recursos paralelo montado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

Soraya é filiada ao PT desde 2002 (a filiação original seria de 2001, mas, segundo ela, sua ficha de inscrição foi extraviada). O diretório londrinense do PT afirma que o motivo das denúncias de Soraya foi a recusa de ela ser aproveitada na administração municipal.

Soraya, que recebia informalmente um salário mensal de R$ 1,2 mil até junho, retruca afirmando que ela estava descontente com o partido "há muito tempo" e se sentiu encorajada a denunciar o caixa 2 por causa da crise nacional envolvendo o partido. "Antes qualquer denúncia não teria repercussão nem seria investigada", argumentou.

As denúncias de Soraya estão sendo investigadas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público. Segundo a PF, foram constatados cerca de R$ 150 mil em despesas não incluídas na prestação de contas do PT. O Ministério Público abriu uma segunda linha de investigação para analisar a prestação de contas oficial da campanha de Micheleti que, de acordo com Soraya, inclui documentos adulterados e assinaturas falsificadas.

Nedson diz que Soraya nada prova

O prefeito Nedson Micheleti (PT) distribuiu nota ontem rebatendo as afirmações da ex-assessora de campanha Soraya Garcia ao jornal Folha de S. Paulo. Segundo a nota, a investigação da Polícia Federal não comprovou nada parecido "com os valores absurdos mencionados pela sra. Soraya… Praticamente todas as pessoas citadas como recebedoras de pagamentos não contabilizados testemunharam à PF e negaram as acusações. Dessa forma, o inquérito policial foi importante para comprovar que não existiu caixa 2 na campanha do PT em Londrina".

Lembrando que Soraya relata ter ouvido dizer, mas não apresenta qualquer documento, Nedson estranha que ela só tenha citado o ex-ministro José Dirceu ao jornal paulista e aponta posições contraditórias em relação ao chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho. Também refere-se à informação prestada pelo deputado federal Gustavo Fruet (PSDB), de que Soraya teria escrito para a CPMI dos Correios oferecendo-se para depor, posteriormente desmentida por ela

Nedson não vê relação entre a investigação em Londrina e as realizadas pela CPMI dos Correios ou qualquer outra comissão de inquérito do Congresso. Até porque não existe nenhuma relação entre a questão local e a nacional. Para ele, a menção a José Dirceu na entrevista ao jornal Folha de S. Paulo tinha o intuito de dar caráter nacional à fatos locais, tentando vincular as investigações das CPIs do Congresso à questão de Londrina: "As declarações da sra. Soraya, encadeadas de maneira a otimizar o escândalo e chamar a atenção da mídia, revelam uma grosseira articulação de interesses políticos com viés eleitoral", diz Nedson.

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