Crime se infiltra nas Forças Armadas

Rio – Para obter armas, munição e granadas, o tráfico de drogas, talvez o mais atuante ramo do crime organizado no estado, está infiltrando seus homens nos quartéis das Forças Armadas do Rio. A informação, pela primeira vez tratada de forma oficial, estará no relatório final a ser enviado a Brasília nos próximos dias por uma comissão formada por uma procuradora e dois promotores do Ministério Público Militar do Rio. O documento será enviado com casos descobertos pela comissão.

Agindo de forma organizada, os chefões do tráfico no Rio são suspeitos até de estar por trás de fraudes em concurso para sargentos do Exército. Pelo menos quatro casos concretos são investigados atualmente pelos promotores da Procuradoria da Justiça Militar do Rio de Janeiro.

Durante seis meses a procuradora Maria Ester Henriques Tavares e os promotores Ailton José da Silva e Ione de Souza Cruz vasculharam os arquivos da inteligência militar para saberem a real dimensão do desvio de armamento nos quartéis. Uma investigação foi determinada pela procuradora-geral da Justiça Militar, Marisa Terezinha Cauduro da Silva, após uma reportagem publicada em fevereiro revelando que militares estavam envolvidos no desvio de armas dos quartéis.

“Pelo que existe em inquéritos, em alguns casos com condenação dos envolvidos, ficou confirmado que o tráfico já infiltra seus homens nos quartéis”, afirmou a procuradora Maria Tavares. Segundo a procuradora-geral Marisa Terezinha,” o “Ministério Público Militar, através das procuradorias da Justiça Militar, tem agido com absoluto rigor na investigação de furto e desvio de armamento pertencente às Forças Armadas”.

“É uma prioridade de atuação da instituição e das autoridades militares”, lembrou Marisa Terezinha. Oficialmente, em relatórios enviados à comissão por oficiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, as Forças Armadas só reconhecem, em cinco anos, o roubo de 174 armas de seus arsenais no Rio. Mas a comissão descobriu, garimpando, por exemplo, os arquivos da polícia, outras 105 armas apodrecendo no depósito da Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos (DFAE) da Polícia Civil do Rio e que não constavam dos relatórios. Apreendido com traficantes de drogas, o armamento foi recuperado porque a numeração estava intacta. Outras armas, também suspeitas de pertencerem às Forças Armadas, permanecem acauteladas na DFAE porque a numeração foi deliberadamente raspada. “Vamos repatriar essas armas”, disse a promotora Ione de Souza Cruz.

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