Coronel Ubiratan pode ter sido morto por ?alguém conhecido?

São Paulo (AE) – O deputado federal e advogado do também deputado e coronel Ubiratan Guimarães, Vicente Cascione, do PTB de São Paulo, afirmou ontem que a morte do policial militar não tem característica de execução. Ele disse que o coronel, ao que tudo indica, foi assassinado por alguém de seu relacionamento pessoal, que entrou no apartamento com consentimento e saiu pela porta da cozinha, deixando-a aberta.

Cascione foi quem apresentou, este ano, o recurso ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo que anulou a pena de 632 anos imposta ao coronel pela morte de 111 presos na Casa de Detenção do Carandiru, em 1992. Ele disse que tão logo recebeu a notícia, dirigiu-se imediatamente ao apartamento de Ubiratan, na Rua José Maria Lisboa, no Jardim Paulistano, chegando antes mesmo da Polícia Civil.

Ele revelou que não teve contato pessoal com o coronel nos últimos meses, mas que chegou a conversar várias vezes com ele por telefone sem que o militar comentasse qualquer tipo de ameaça. ?O que aconteceu foi um homicídio com margem grande de certeza de ser praticado por alguém que era de seu relacionamento próximo, alguém que entrou com consentimento. Ele foi atingido por um único tiro, com ferimento visível na altura do fígado, o que não é ato de execução. Essa zona não é zona de eleição para quem quer matar uma pessoa?, afirmou.

Cascione falou que foi avisado sobre a morte do coronel quando estava no aeroporto. Ao chegar no apartamento, já encontrou o chefe de gabinete e um amigo da vítima. Para ele, o crime pode ter sido fruto de um desencontro, de um problema de relacionamento pessoal. ?Isso me parece claro. Ele estava descontraído, com uma toalha de banho enrolada. Tinha saído do banho. Não se deslocou dali. Não havia nenhum sinal de luta. Na minha opinião, foi mesmo alguém de seu relacionamento pessoal?, reafirmou.

Massacre do Carandiru

Conhecido pelo massacre do Carandiru em 1992, quando 111 presos foram mortos pela polícia, o coronel reformado Ubiratan Guimarães, 63 anos, foi encontrado morto domingo, por volta das 22h, em seu apartamento. Ele levou um tiro de pistola no abdome. A bala atravessou suas costas e se alojou no sofá da sala.

O coronel, que era deputado estadual pelo PTB e concorria à reeleição, estava apenas com uma toalha enrolada ao corpo; seu dinheiro, cerca de R$ 180, estava sobre a mesa e nada foi roubado. Os jornais de domingo não foram recolhidos.

Coronel Ubiratan chegou a ser condenado a 632 anos de prisão pela morte de 111 presos durante a invasão policial que ficou conhecida como massacre do Carandiru, em 1992. Ele foi o comandante da operação policial que invadiu o presídio durante uma rebelião. O militar pôde recorrer da sentença em liberdade e conseguiu a anulação do julgamento este ano, sem passar nenhum dia na prisão.

namorada confirma briga antes do crime acontecer

São Paulo (AE) – A polícia confirmou na tarde de ontem uma briga entre o coronel Ubiratan Guimarães e a namorada dele, a advogada Carla Cepollina, no dia do crime, mas nega que haja uma linha de investigação. O coronel foi encontrado morto na noite de domingo.

A polícia já ouviu os funcionários do prédio onde ele morava e também vizinhos. A namorada, Carla, teve uma conversa informal com os investigadores e deve depor hoje. Para o delegado geral da Polícia Civil, Marco Antonio Desgualdo, nenhuma hipótese deve ser descartada, mas ele não acredita em uma ação do crime organizado pela forma como o assassinato ocorreu. ?Não havia sinal de arrombamento, tampouco luta. As coisas estavam em ordem dentro da casa, tudo no lugar. Agora é chegar na autoria, a quem interessava?, declarou Desgualdo.

Carla foi a última pessoa a ver o deputado. O delegado Armando de Oliveira Costa Filho, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) prefere, no entanto, não apontar suspeitos. ?Eu não descarto nada, eu volto a repetir que nenhuma linha de trabalho está descartada?, observou Costa Filho.

A polícia encontrou seis armas no apartamento do coronel, todas de posse dele. O deputado tinha mais uma, calibre 38, que não foi encontrada. Somente a perícia poderá confirmar se o revólver desaparecido foi utilizado pelo autor do crime.

Carla chegou ao DHPP por volta das 9h. Ela saiu pelos fundos, em uma viatura com vidros escuros, e não falou com a imprensa.

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