Contratação de brasileiros para o Iraque é obscura

Brasília – São cada vez mais fortes os indícios de que a empresa Inveco International serve apenas de fachada para um esquema ainda obscuro destinado a contratar brasileiros para reforçar as fileiras de mercenários que atuam como "soldados privados" no Iraque, ao lado das tropas da coalizão. A Inveco seria responsável pela contratação de militares e ex-militares brasileiros que vinham sendo recrutados em São Paulo e Goiânia pelos alemães Frank Salewski e Heiko Emil Seibold, agora investigados pelo Ministério Público do Trabalho. O suposto chefe da corporação, Pierre P. Orosz, que segundo Seibold e Salewski seria um americano residente na Flórida, na verdade é um belga que tem ligações com o Brasil. Pierre Paul Eugene Orosz, de 42 anos, possui visto permanente desde 2003 para morar no País. É casado com uma brasileira, Teresa Cristina Aparecida Hoepers Orosz, e mantém um apartamento de cobertura num prédio em área nobre no Balneário Camboriú, em Santa Catarina.

Nos encontros que Salewski e Seibold tiveram com brasileiros candidatos a trabalhar no Iraque, Orosz sempre foi mencionado como proprietário da Inveco, homem com livre acesso ao Pentágono que garantiria o pagamento dos salários de US$ 6,5 a US$ 8 mil prometidos a quem topasse a missão. Segundo os alemães, a Inveco teria sede na Flórida, mas não há qualquer registro oficial da empresa no estado americano. O material de divulgação da Inveco informa que a companhia teria representações, ainda, na Costa Rica e na Suíça.

Os elementos que aumentam o mistério em torno da empresa e do próprio Orosz são reforçados por quem conhece o belga em Camboriú. A profissão dele é desconhecida. O pouco que se sabe é que viaja freqüentemente ao exterior. A mulher de Orosz afirma que o marido está em viagem à África. Indagada sobre a atividade profissional dele, desconversou. "Eu não me interesso por isso, nem pergunto nada", disse Teresa Orosz, acuada.

Diante da insistência, ela respondeu que o marido trabalha como "assessor de segurança". Ao ser informada que o assunto era a contratação de brasileiros para trabalhar como vigias de instalações militares no Iraque, Teresa Orosz retrucou: "O que tem de sensacional nisso? Quando a Odebrecht mandou brasileiros para trabalhar lá no Iraque vocês da imprensa se interessaram?".

Falta de dados causa apreensão

Brasília – Na Flórida, o único registro oficial referente a Pierre Orosz diz respeito a outra obscura empresa criada em julho de 1992 e fechada em abril de 1994. Ela se chamava International Intel-ligence Service, Inc. e Orosz figurava como o seu vice-presidente. Ele dava como seu endereço o da própria companhia – uma rua na cidade de Auburndale. "Os papéis não deixam claro qual era a natureza da firma. Tudo indica que teria sido uma empresa especializada em espionagem comercial ou industrial", disse um funcionário da Divisão de Corporações da Flórida, que mantém registros das empresas privadas no estado.

Para autoridades brasileiras ligadas à investigação, a falta de dados sobre quem está realmente por trás da contratação reforça a suspeita de que as promessas feitas aos brasileiros podem estar bem longe da realidade que enfrentariam no Iraque. "Isso indica que os candidatos ao emprego podem estar sendo enganados, o que pode configurar crime", disse um procurador.

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